Contaminado por coisa importantes

O estranho tinha passado o dia à procura de uma tal de Celeste que vivera na serra antes da Revolução, uma mulher imponente, mais ampla do que uma bíblia, mais ambígua do que um poema.

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Metia mais um copo na boca e mais outro e mais outro e mais outro, desdenhando os que não bebiam tanto, os outros, e especialmente os que são mais outros, os estrangeiros: conhecia, dizia o Urso, gregos e americanos, homens enormes, gigantes, com um corpanzil de meter medo, que quando chegavam ali eram derrotados em pouco tempo, um copinho de medronho servido umas vezes e era vê-los ir ao tapete. Nas tascas e nos lagares, à medida que o Urso lia mais frases do tal livro do tal filósofo que até sabia o sentido da vida, as suas conversas iam sendo contaminadas pelos termos incompreensíveis que lia, palavras em latim, em árabe, em grego, em chinês, em hebraico, todas incompatíveis com o medronho, palavras que tornavam tudo longe como um terreno fora do alcance da vista. E quem o ouvia, a partir de certo número de medronhos emborcados, afastavam-se, sentiam estar a ser contaminados por coisas importantes. É insuportável estar perto de assuntos sérios. A existir, o sentido da vida não era para ser lido, compreendido ou racionalizado, era para ser bebido. Com frequência e em quantidade.

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