Câmara Municipal do Porto propõe dissolver Associação do Museu de Imprensa

Município pretende assumir o espólio, liquidar o passivo financeiro e incorporar os trabalhadores da associação na empresa municipal Ágora

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Museu da Imprensa está encerrado há cerca de 15 meses Nelson Garrido

O município do Porto pretende dissolver a Associação do Museu de Imprensa (AMI), passando a assumir a preservação do espólio, a assegurar a liquidação do passivo financeiro e a incorporar os funcionários da associação na empresa municipal Ágora.

A proposta, apresentada esta sexta-feira pelo representante do município, Vasco Ribeiro, na assembleia-geral da associação, pressupõe a convocação de uma nova assembleia para discutir a dissolução da AMI, entidade responsável pela gestão do Museu Nacional de Imprensa, Jornais e Artes Gráficas, que se encontra encerrado há 15 meses.

A intenção, que Rui Moreira já tinha divulgado numa reunião de câmara no início do mês, contou com os votos favoráveis da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas e Transformadoras do Papel (APIGRAF), do Global Media Group e do município, com a abstenção do representante do Governo e com o voto contra do representante do Centro de Formação de Jornalistas, Luiz Humberto Marcos, um dos fundadores da associação, que, em Junho de 2022, deixou, depois de várias décadas, a sua liderança.

Além da dissolução da AMI, o município compromete-se a "tudo fazer para preservar, valorizar e promover" o espólio do museu fundado em 1989, bem como a assegurar a liquidação do passivo da associação "dentro das possibilidades legalmente existentes" e incorporar os quatro funcionários da associação na empresa municipal Ágora.

Na assembleia, que decorreu no interior do museu, Vasco Ribeiro esclareceu que a intenção da câmara "não é acabar com o museu", mas "revitalizar o espaço com o espólio que existe", dizendo existir a possibilidade de parte do espólio integrar o pólo museológico da indústria, que, sob responsabilidade do Museu do Porto, ficará sediado no CASE.

Já Luiz Humberto Marcos considerou a proposta "uma manobra para dar seguimento aos 15 meses de encerramento do museu" e "acabar completamente com a associação". "Isto é um golpe inaceitável", defendeu.

Pela APIGRAF, o presidente José Lopes de Castro disse estar "completamente disponível" para uma deslocalização do museu, desde que o mesmo não se transformasse num pólo museológico e continuasse a ter a sua autonomia.

Também o representante do Global Media Group, que apresentou a demissão da direcção da associação, disse não existir viabilidade económica para a AMI prosseguir a sua actividade, defendendo que esta é "uma associação falida".

A par desta proposta, os membros da assembleia-geral da AMI discutiram o relatório e contas referente aos anos de 2021 e 2022, apreciaram a auditoria solicitada pela direcção do museu, assumida em Junho de 2022 pela Câmara do Porto, e deliberaram sobre a nomeação de novos membros para ocuparem os cargos entretanto vagos, na sequência de renúncias recebidas.

Durante a sessão, o presidente demissionário do museu, Nuno Lemos, voltou a esclarecer que quando o município assumiu a direcção se deparou com "inexistência de documentação, imparidades por registar, um desequilíbrio total entre as receitas e despesas, e a acumulação de um passivo superior a 190 mil euros". Simultaneamente, foram também detectadas patologias no edifício, ao nível da segurança e condições.