Três semanas de chuva acrescentaram apenas 36hm³ nas reservas de 81 barragens. Para onde foi a água?

Nas 35 barragens do Sul do país persiste a escassez hídrica que contrasta radicalmente com as elevadas reservas de água que já estão concentradas nas 46 barragens a norte do Tejo.

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Três semanas de chuva entre o fim de Novembro e o início de Dezembro não chegaram para afastar preocupações, sobretudo no Sul do país Paulo Pimenta
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A forte pluviosidade que se abateu com maior intensidade sobre extensas áreas das regiões centro e norte do país, entre 20 de Novembro e o dia 11 de Dezembro, traduziu-se num aumento de 36 hectómetros cúbicos hm³ nas 81 barragens nacionais monitorizadas pelo Serviço Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH).

O dado mais relevante da realidade actual que se observa nas reservas hídricas nacionais continua a residir no Sul do país: das 35 barragens localizadas no Alentejo e Algarve, apenas as albufeiras da Apartadura (96%) e do Maranhão (92%) tinham níveis de armazenamento superiores a 80%, 12 registaram volumes entre 50% e os 80% e 20 tinham reservas inferiores a 50% e, destas, as barragens de Campilhas (6%), Monte da Rocha (8%), Vigia (16%), Arade (15%) e Bravura (8%) permaneciam no vermelho.

Nas duas regiões do Sul, o armazenamento a 11 de Dezembro, com Alqueva, atingia 3937hm³. Os débitos entre 20 de Novembro e 11 de Dezembro traduziram-se num aumento de 67hm³. Sem o volume de água armazenado na grande barragem – 2992hm³ (72%) o Sul do país teria apenas uma reserva de 935hm³.

No litoral alentejano a problemática barragem de Santa Clara mantém praticamente inalterado o seu volume de armazenamento que se regista desde o início do ano. A mais problemática albufeira portuguesa recebeu um acréscimo de apenas 247 metros cúbicos.

Há um outro factor que, a confirmar-se, pode vir a complicar, ainda mais, a situação desta albufeira: a carga sedimentar acumulada no leito ao longo de 55 anos pode significar uma redução no volume de água armazenado. Os dados oficiais divulgados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) continuam a reportar-se aos que existiam, quando a albufeira iniciou o seu enchimento em 1968.

No limite da cota para rega

O volume armazenado no dia 11 de Dezembro encontrava-se à cota 105,35 metros acima do nível do mar. As captações de água para rega estão autorizadas até à cota 104, e a partir daqui a água será destinada apenas para assegurar o consumo humano. O PÚBLICO procurou apurar junto da APA se as albufeiras portuguesas tinham os níveis de sedimentação monitorizados. Não foi dada resposta a um problema que pode já estar a afectar a reserva de água em Santa Clara destinada ao consumo humano.

Em causa estará, neste momento, a próxima campanha de rega que se inicia em Janeiro. Onde se pode ir buscar a água para a rega é a pergunta para a qual os agricultores do perímetro de rega do Mira ainda não obtiveram resposta da comissão administrativa da Associação de Beneficiários do Mira.

A norte do Tejo o cenário contraria a escassez que se observa nas barragens do Sul. Das 46 albufeiras localizadas nas regiões centro e norte do país, apenas as de Lagoacho (33%) e Vale de Rossim (36%) não acompanharam os elevados volumes de armazenamento registados pelo SNIRH, que atingiram os 5824hm³. Acima de 80% foram contabilizadas 32 albufeiras e 28 registaram valores entre os 50% e os 80%.

O total de água armazenada nas 81 barragens públicas monitorizadas pelo SNIRH a 20 Novembro atingiu os 9728hm³ (73%). A 11 de Dezembro subiu para os 9764hm³ (74%), que representa um acréscimo de apenas 36hm³, volume residual que continua a suscitar uma interrogação: para onde foi a água? Enquanto a resposta não chega, o diferencial de água armazenada no Norte do país alimenta os argumentos dos defensores do transvase de caudais para o Sul, onde a fraca precipitação atmosférica deixou mais de metade das albufeiras abaixo dos 50% da sua capacidade de armazenamento.