As casas que são saudade

A palavra saudade intensificou-se. Intensificou-se quando foi preciso um abraço e não o tivemos, quando choramos sem ninguém por perto para consolar.

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Megafone P3: As casas que são saudade Jens Lindner/Unsplash
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Mudei-me. Com tudo o que isso significa. Com deixar para trás o aconchego dos domingos em família, as gargalhadas dos passeios, os cozinhados da avó e da mãe e as brincadeiras do pai. Mudei-me para uma vida a dois em cidades que fomos descobrindo e nos foram recebendo.

E, no meio de todos os percalços, de todas as novidades, a palavra saudade intensificou-se. E intensificou-se quando percebemos verdadeiramente o amor que conseguimos sentir. Intensificou-se quando foi preciso um abraço e não o tivemos, quando chorámos sem ninguém por perto para consolar.

Dizem que o tempo cura tudo, mas acho que apenas nos ensina a lidar com a saudade. E que bonita e dolorosa tem sido esta jornada. Quando somos adolescentes queremos ter a nossa independência, mas, hoje, olho para o presente com receio.

Receio de continuarmos a ser jovens a precisar de emigrar, de não conseguirmos pagar rendas e casas, de não conseguirmos juntar o mínimo para poupanças futuras. Hoje, olho para o presente com a certeza de que a mudança, que foi imposta pelo estado em que vivemos, é dura.

Que temos de deixar de ver família e amigos para conseguir juntar algum dinheiro, que temos de equacionar todas as decisões que tomamos para não navegarmos por mares tumultuosos. Hoje, o presente é um misto de indefinição e aventura e a palavra saudade cresce em cada passo que damos e em cada caminho que temos de percorrer.

E todas as casas por que passamos acabam por se tornar saudade. Saudade dos momentos partilhados, dos sonhos escritos em serões que nunca terminavam, do desgaste da madeira e das vistas nas varandas. Saudade dos cheiros e das folhas que sempre se queriam mostrar, da calçada que já gasta continuava a contar as melhores histórias e, claro, das pessoas que conhecemos e das linhas que nunca se perdem.

E tudo isto porque casa é o lugar onde nos sentimos felizes, mas, o sentir-se completo fica naquela primeira casa, na cidade lá no Norte que nunca se engana e no sentimento agridoce que é ver partir os seus e recebê-los passado algum tempo, nas férias e nas folgas. O sentir-se completo será sempre naqueles dias sem fim e no amor da nossa família.

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