Tesla recolhe mais de 2 milhões de veículos nos EUA por preocupações com Autopilot
Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário manterá investigação ao Autopilot enquanto observa soluções apresentadas pela empresa. Recolha parece abranger quase todos os Teslas nos EUA.
A Tesla está a proceder à recolha de mais de dois milhões de veículos nos Estados Unidos equipados com o sistema avançado de assistência ao condutor Autopilot para instalar novas salvaguardas, depois de uma entidade reguladora ter afirmado que o sistema não é seguro.
Nesta semana, uma investigação do The Washington Post, que o PÚBLICO divulgou, concluiu que pelo menos oito acidentes fatais ou graves com Teslas ocorreram em estradas onde o Autopilot não deveria ter sido activado.
A Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário (NHTSA) tem vindo a investigar o fabricante de automóveis eléctricos, liderado pelo milionário Elon Musk, há mais de dois anos para determinar se os veículos Tesla garantem adequadamente que os condutores prestam atenção quando utilizam o Autopilot. A maior recolha de sempre da Tesla parece abranger quase todos os seus veículos que circulam nas estradas norte-americanas.
A Tesla disse num pedido de recall que os controlos do sistema de software do piloto automático “podem não ser suficientes para evitar o uso indevido do condutor” e podem aumentar o risco de um acidente.
A administradora interina da NHTSA, Ann Carlson, disse à Reuters em Agosto que é “realmente importante que os sistemas de monitorização do condutor levem em consideração que os humanos confiam demasiado na tecnologia”.
O Autopilot da Tesla destina-se a permitir que os automóveis se orientem, acelerem e travem automaticamente dentro da sua faixa de rodagem, enquanto uma versão melhorado do mesmo sistema pode ajudar a mudar de faixa em auto-estradas, algo indisponível em Portugal por ausência de legislação, mas possível, por exemplo, na Alemanha.
Uma das componentes do Autopilot é o Autosteer, que mantém uma velocidade ou distância predefinida e opera no sentido de manter um veículo na sua faixa de rodagem.
A Tesla disse que não concordava com a análise da NHTSA, mas iria proceder a uma actualização remota (over-the-air) do software com “controlos e alertas adicionais aos já existentes nos veículos afectados para encorajar ainda mais o motorista a aderir à sua responsabilidade de direcção contínua sempre que o Autosteer estiver activado”.
A empresa não esclareceu se a recolha seria efectuada fora dos Estados Unidos.
“Utilização indevida previsível”
A NHTSA abriu uma investigação em Agosto de 2021 sobre o Autopilot, depois de identificar mais de uma dúzia de acidentes em que veículos Tesla atingiram veículos de emergência que se encontravam imobilizados, tendo existido uma actualização em Junho de 2022.
A NHTSA disse que, como resultado da sua investigação, a Tesla emitiu o recall depois que a agência descobrir que “o design exclusivo da Tesla do seu sistema Autopilot pode fornecer envolvimento inadequado do condutor e controlos de uso que podem levar ao uso indevido previsível do sistema”. A NHTSA analisou 956 acidentes em que o Autopilot estava a ser usado e concentrou-se em 322 acidentes que envolveram o Autopilot.
Bryant Walker Smith, professor de direito da Universidade da Carolina do Sul, que estuda questões de transporte, disse que a correcção apenas de software será bastante limitada. O recall “realmente parece colocar muita responsabilidade sobre os condutores humanos em vez de um sistema que facilita esse uso indevido”, disse Smith.
Separadamente, desde 2016, a NHTSA abriu mais de três dúzias de investigações especiais de acidentes da Tesla em casos em que sistemas condução semi-autónoma estariam a ser usados, com 23 mortos relatados até o momento.
A NHTSA afirmou que pode haver um risco acrescido de acidente em situações em que o sistema é activado, mas o condutor não mantém a responsabilidade pela operação do veículo e não está preparado para intervir ou não reconhece quando é cancelado ou não.
A investigação da NHTSA sobre o Autopilot permanecerá em aberto enquanto o organismo monitoriza a eficácia das soluções da Tesla. A Tesla e a NHTSA realizaram várias reuniões desde meados de Outubro para discutir as conclusões provisórias da agência sobre a potencial utilização indevida do condutor e as soluções de software propostas pela Tesla em resposta.
A empresa vai lançar a actualização para 2,03 milhões de veículos dos modelos S, X, 3 e Y nos Estados Unidos, para modelos que remontam ao ano de 2012, informou a agência.
A actualização baseada no hardware do veículo incluirá o aumento da proeminência dos alertas visuais na interface do usuário, simplificando o ligar e desligar do Autosteer e verificações adicionais ao ligar este sistema “e eventual suspensão do seu uso se o condutor falhar repetidamente em demonstrar responsabilidade de direcção contínua e sustentada enquanto o recurso está activado”, informou a Tesla. Mas a marca não forneceu mais pormenores sobre a forma exacta como os alertas e as salvaguardas seriam alterados.
As acções do fabricante de automóveis caíram 1% nas negociações antes da abertura da Bolsa.
A Tesla divulgou em Outubro que o Departamento de Justiça dos EUA havia emitido intimações relacionadas aos seus sistemas Full Self-Driving (FSD) e Autopilot. A Reuters noticiou em Outubro de 2022 que a Tesla estava sob investigação criminal por alegações de que os veículos eléctricos da empresa se podiam conduzir a si próprios.
Em Fevereiro, a Tesla fez o recall de 362 mil veículos dos EUA para actualizar o seu software FSD Beta, na sequência da NHTSA ter dito que os veículos não aderiram adequadamente às leis de segurança no trânsito e poderiam causar acidentes.
A NHTSA encerrou uma investigação anterior sobre o Autopilot em 2017 sem tomar qualquer medida. O National Transportation Safety Board (NTSB) criticou a Tesla pela falta de salvaguardas do sistema para o Autopilot e a NHTSA por não garantir a segurança do Autopilot.