“Consenso de 197 países para o fim dos combustíveis fósseis não pode ser minimizado”
Os diferentes mecanismos que têm sido desenvolvidos para reduzir a emissão de gases de efeito de estufa têm-se revelado insuficientes e a concentração de carbono na atmosfera segue a sua subida aparentemente imparável. A temperatura média está já a ultrapassar em um grau e meio o valor pré-industrial e continua a subir. Nesta situação, o fim dos combustíveis fósseis tornou-se uma necessidade e a condição para ser alcançada uma nova estabilidade climática.
Não podemos esconder que os custos sociais associados poderão ser elevados. Para as economias que dependem dos hidrocarbonetos como matéria-prima exportável de grande valor económico, para os setores de atividade que necessitam de elevada densidade de energia, para o transporte marítimo e rodoviário pesado.
Muito se avançou no que diz respeito às fontes renováveis de energia, mas a transição não é fácil, não atinge todos os tipos de utilização, necessita de outro tipo de matérias-primas algumas das quais escassas, e requer investigação, alteração de infraestruturas e investimento.
Vamos provavelmente terminar dentro de poucos dias o ano mais quente de sempre. Quem o diz é a Organização Meteorológica Mundial. A OMM não é uma organização política, não é particularmente mediática, e não tem nenhuma agenda ideológica: reúne todos os países do mundo, representados pelos seus serviços meteorológicos e baseia as suas afirmações em observações e em ciência. A subida da temperatura média do planeta faz com que, há algumas décadas, o tempo se possa medir com um termómetro.
O caminho que temos de seguir pouco depende de declarações de vontade por mais radicais que sejam, e depende muito de consensos sociais, de mais ciência e tecnologia, de mais solidariedade entre países e entre regiões.
O estabelecimento de um consenso de 197 países reunidos na vigésima oitava conferência das partes para o fim dos combustíveis fósseis não pode por isso ser minimizado. Tão importante como a definição e aplicação de um plano de real descarbonização, é começarmos a pôr fim ao cisma que divide crentes climáticos de céticos, de nos compreendermos uns aos outros, sem simplificações nem demonizações.
Muito está por fazer ainda, mas o caminho parece traçado.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico