“Acabem com os combustíveis fósseis”: quem é a activista que interrompeu a COP28?

Licypriya Kangujam, activista indiana de 12 anos, subiu ao palco da COP28 e interrompeu um discurso: “Acabem com os combustíveis fósseis. Salvem o nosso planeta e o futuro.”

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“Acabem com os combustíveis fósseis. Salvem o nosso planeta e o futuro”, lê-se no cartaz da activista. EPA/MARTIN DIVISEK
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Licypriya Kangujam foi expulsa da COP28 EPA/MARTIN DIVISEK
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A activista entende que a utilização de combustíveis fósseis representa a causa principal da crise climática actual EPA/MARTIN DIVISEK
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A activista ambiental Licypriya Kangujam interrompeu, na passada segunda-feira, 11 de Dezembro, as palavras da presidência da COP28, a Cimeira do Clima das Nações Unidas que decorreu no Dubai. Subindo ao palco, a jovem indiana de 12 anos repetiu as palavras de ordem escritas no cartaz que segurava sobre a cabeça, onde se lia: “Acabem com os combustíveis fósseis. Salvem o nosso planeta e o futuro.” Licypriya foi retirada da sala por seguranças momentos depois e a audiência e a própria presidência da cimeira aplaudiram a acção da activista.

Ao protestar pela eliminação progressiva dos combustíveis fósseis perante os delegados dos quase 200 países presentes na cimeira climática, Licypriya foi “detida durante mais de 30 minutos”, tendo de seguida sido expulsa do evento, contesta a activista numa publicação na rede social X (antigo Twitter).

A interrupção da cimeira por parte da activista indiana aconteceu no seguimento da publicação, pela presidência da COP28, de uma proposta de texto para o balanço global da cimeira, entregue a todos os países presentes na passada segunda-feira. Na primeira versão deste documento, que é um dos mais importantes da cimeira climática, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis ainda não era mencionada.

“Aqui está o texto completo da minha voz”, escreve. “Os governos devem trabalhar em conjunto para eliminar gradualmente o carvão, o petróleo e o gás – a principal causa da crise climática actual”, afirma a activista naquela rede social. Para Licypriya, as questões centrais sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis estavam a ser “postas de lado” na cimeira climática no Dubai, relacionando o facto com a participação dos cerca de “2500 lobbyistas de combustíveis fósseis” inscritos no evento.

Sem um consenso claro sobre o fim da utilização das combustíveis fósseis, as negociações entre os representantes prolongaram-se pela noite de terça-feira, à porta fechada. Proposto pela presidência da COP, um novo acordo foi aprovado esta quarta-feira, 13 de Dezembro, desta vez anunciando a tão aguardada “transição para o abandono dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos”.

Quem é Licypriya Kangujam?

Licypriya Kangujam nasceu em 2011 no estado indiano de Manipur. Começou por dar os primeiros passos no activismo acompanhando o pai num evento de angariação de fundos no seguimento de um terramoto no Nepal, em 2015, e, mais tarde, em 2018, numa conferência das Nações Unidas para a redução de riscos de desastres, que decorreu na Mongólia, contou à BBC em 2020.

Ainda em 2018, fundou o The Child Movement , uma organização não governamental pela “justiça climática” e pelos “direitos das crianças”, lê-se na página oficial da organização no X.

As alterações climáticas ocupam a agenda da jovem activista desde cedo, juntando-se à acção local nos estados do Nordeste do país indiano, pronunciando-se contra a fraca qualidade do ar e lançando uma campanha para o estudo das alterações climáticas nas escolas indianas.

Em 2019, foi convidada a participar na COP25, em Madrid. No encontro com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, este destacou as “obrigações para com as gerações futuras” e a necessidade da “acção climática urgente”, escreveu, na altura, no Twitter.

No ano seguinte, em conjunto com vários activistas ambientais, entre os quais a sueca Greta Thunberg, a jovem indiana publicou uma carta no jornal britânico The Guardian. Destinada aos dirigentes políticos presentes no 50.º aniversário do Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, o grupo de jovens activistas sublinhava as consequências da “urgência climática” e o “abandono da economia de combustíveis fósseis”.

Protestos pré-aprovados e liberdades suprimidas

Numa publicação na rede social X dirigida a António Guterres e ao secretário-geral da convenção da ONU sobre alterações climáticas (UNFCCC), Simon Stiell, Licypriya reagiu com desagrado à retirada da sua licença de participação como activista oficial na COP28. “Isto constitui uma grave violação e abuso dos direitos da criança nas instalações da ONU, o que vai contra o princípio da ONU”, escreve a activista indiana na sua página pessoal.

Tal como Licypriya, outros activistas inscritos na COP28 também marcaram presença nos protestos pré-aprovados pela ONU e pelas autoridades dos Emirados Árabes Unidos.

Segundo a agência de notícias Reuters, contrariamente às edições anteriores, que contaram com manifestações de protesto pela acção climática, nomeadamente a COP26, em 2021, em Glasgow, as manifestações contra a COP28 foram silenciadas, em grande medida, devido à liberdade de expressão limitada no país anfitrião.

Texto editado por Ana Maria Henriques