Juntos com Seguro em 2011: os caminhos cruzados dos candidatos

Pedro Nuno Santos cortou com Seguro, insistindo na candidatura de Costa. Carneiro esteve na direcção de Seguro até à derrota nas primárias, que o “surpreendeu”.

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Tanto José Luís Carneiro como Pedro Nuno apoiaram Seguro contra Francisco Assis MATILDE FIESCHI
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José Luís Carneiro era presidente da Câmara de Baião em 2011 quando decide apoiar para o cargo de secretário-geral, depois da demissão de José Sócrates, António José Seguro, contra Francisco Assis. Assis era apoiado por António Costa.

O presidente da Federação de Aveiro do PS, Pedro Nuno Santos, também apoiou António José Seguro contra Francisco Assis. Os jornais da época registam estes apoios.

Em 2011, Carneiro faz uma declaração à Lusa a anunciar o seu apoio a Seguro: “Declaro o meu apoio público à candidatura de António José Seguro por entender que esta candidatura mostra uma vontade firme de promover um novo ciclo de mudança nas estruturas internas do partido de modo a possibilitar um novo diálogo social, mais claro, mais transparente e mais qualificado com vista à definição das melhores políticas públicas.” O Expresso titula: “Ex-chefe de gabinete de Assis apoia Seguro.” De facto, Carneiro tinha trabalhado com Assis quando este era líder parlamentar do PS.

Na altura, relativamente à herança dos governos Sócrates, Francisco Assis representava a “continuidade” e Seguro a “renovação”. José Luís Carneiro escolheu a renovação. Como a política dá muitas voltas inesperadas, hoje José Luís Carneiro afirma-se como o candidato da continuidade e Francisco Assis, que escolheu não apoiar o seu antigo chefe de gabinete (da mesma forma que Carneiro também não o apoiou em 2011), preferiu “o virar de página” – como lhe chamou Sérgio Sousa Pinto – de Pedro Nuno Santos.

Apesar de Carneiro dizer que a sua declaração de voto em Seguro era “pessoal”, o Expresso escrevia que tal apoio significava o apoio de 45% da Federação do Porto.

Também o jovem presidente da Federação de Aveiro, Pedro Nuno Santos, estava com a renovação e não com a continuidade que Assis representava. “Nós precisamos de iniciar um novo ciclo e António José Seguro traz essa nova frescura ao PS”, disse Pedro Nuno em 2011.

O líder do PS-Aveiro achava que Seguro era o que, naquele momento, apresentava “as melhores condições para que, sem renegar aquilo que foi a obra que o PS fez nos últimos seis anos, possa também fazer uma análise crítica das razões que conduziram à última derrota eleitoral”.

José Luís Carneiro irá integrar o secretariado de António José Seguro e irá apoiá-lo até ao fim – inclusive em 2014, nas primárias em que António Costa defrontou o secretário-geral.

Pedro Nuno Santos desilude-se depressa e corta com Seguro. Acaba mesmo a demitir-se do cargo de vice-presidente da bancada parlamentar do PS em protesto pela aprovação do Tratado Orçamental. Outra versão explica que esta demissão teve a ver com a falta de solidariedade que sentiu por parte da direcção de Seguro quando se tornou público o célebre discurso que fez no jantar de Natal do PS de Castelo de Paiva, em que sugeria que Portugal tinha uma “bomba atómica” que era “não pagar a dívida” e que “as pernas dos banqueiros alemães” ficariam a tremer. As razões apresentadas, de qualquer forma, foram "razões pessoais".

Quando, em 2012, Pedro Nuno Santos é reeleito presidente da Federação de Aveiro, já é considerado “um costista”. Nas eleições federativas de Junho de 2012, o PÚBLICO escrevia: “Seguro ganhou o Porto, a maior federação do partido, mas perdeu Aveiro, uma distrital que vai continuar nas mãos do deputado Pedro Nuno Santos, que se demitiu de vice-presidente da bancada parlamentar do PS, por divergências políticas com a direcção do partido”.

Em 2013, Pedro Nuno Santos faz parte do grupo que insiste com António Costa para se candidatar contra Seguro. Numa famosa Comissão Política no Largo do Rato, com alguns dirigentes do secretariado de Seguro a acusarem os “costistas” de “traição”, António Costa acaba por recusar avançar. Pedro Nuno Santos fica destroçado.

António Costa só decidirá candidatar-se depois das eleições europeias de 2014, em que o PS ganha, mas por “poucochinho”, como disse na altura. Pedro Nuno Santos está na linha da frente do apoio a Costa – é o primeiro dirigente federativo a apoiá-lo – enquanto José Luís Carneiro se mantém ao lado de Seguro.

No dia das primárias, 29 de Setembro de 2014, José Luís Carneiro fica desolado. “Fiquei surpreendido, porque tinha a expectativa de que ganharíamos. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para que António José Seguro vencesse as eleições”, disse nessa noite. Mas promete, logo ali, colaborar com o futuro secretário-geral.

Entre os vários seguristas que António Costa levou para o Parlamento e para cargos de governo esteve José Luís Carneiro, a quem coube, numa primeira fase, liderar a secretaria de Estado das Comunidades. Por essa altura, Pedro Nuno Santos era a “estrela” do Governo por ter como missão gerir as negociações da "geringonça" que levaram o PS ao poder. Já estiveram unidos, separados, unidos, separados e hoje estão frente a frente.

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