Uma série para leitores e um episódio sobre Lisboa

Booklovers, da plataforma gratuita CaixaForum+, visita cidades pelas páginas de livros, pelas salas de livrarias e pelos arquivos e palavras de quem as habita.

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Fernando Pessoa é incontornável no episódio sobre Lisboa Matilde Fieschi
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“Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão.” É assim que termina um escrito de Fernando Pessoa, aliás Bernardo Soares, e assim começa o episódio dedicado a Lisboa da série Booklovers, ou, no castelhano original, Letraherido, disponível na plataforma CaixaForum+. Onde? Numa plataforma de streaming que no próximo ano se apresentará oficialmente em Portugal com interface totalmente em português — mas que não só está já online, como tem grande parte dos seus títulos já legendados em português e é de acesso gratuito.

Booklovers é uma série documental original deste serviço de divulgação cultural da Fundação La Caixa, pertencente à banca espanhola, e é conduzida pelo escritor Jorge Carrión (autor de Contra a Amazon e Livrarias, editados em Portugal pela Quetzal). Nasce dos livros e das viagens de Jorge Carrión ao longo de mais de 25 anos e leva o espectador a livrarias e bibliotecas de todo o mundo — neste caso, cinco cidades ibero-americanas. À escritora angolana Telma Tvon cabe o papel de debitar poesia enquanto respira a maresia vinda do Atlântico, abrindo a porta de Lisboa frente ao Tejo. Em Lisboa, Carrión teve a sorte de encontrar ainda José Pinho, que morreu a 30 de Maio deste ano, e de ver os planos para a Casa do Comum do Bairro Alto – Centro Cultural, que foi inaugurada a 31 de Outubro.

“Sou culpado de ter feito uma coisa bem feita”, diz José Pinho a Carrión, entre cafés, passeios pela Ler Devagar da LX Factory e pelas obras da Casa do Comum. Pinho fala sobre o seu percurso como livreiro e sobre as escolhas da sua livraria. Depois, dita a montagem do episódio, dá espaço a outra figura dos livros portugueses: Fernando Pessoa, o “super-Camões, o poeta messiânico”, como lhe chama Jorge Carrión. Há entrevistas com a directora da Biblioteca Nacional, Inês Cordeiro, com a directora da Fundação José Saramago, Pilar del Río, e com o escritor Alberto Manguel. É ele que sugere que o termo “booklover” já não lhe agrada e que deve ser substituído, essencialmente, pela palavra “leitor”.

Leitores, então, mas também espectadores, podem conhecer de Lisboa alguns dos seus espaços literários mais emblemáticos. Arquivos, bibliotecas, o Cais das Colunas, a histórica Bertrand do Chiado, a monumental Biblioteca Nacional, a Fundação Gulbenkian, a Fundação José Saramago e a livraria Travessa, no fundo a sua dimensão literária e livresca onde ainda se escondem segredos e preciosidades. Os entrevistados falam, naturalmente, das suas paixões literárias, de quem os inspirou. Manguel fala de Jorge Luis Borges, Pilar del Río obviamente de José Saramago (e da Lisboa “um pouco provinciana” que encontrou nos anos 1980), por exemplo.

Além de Lisboa, que é o terceiro de cinco episódios, são visitadas Madrid, Cidade do México, Barcelona e Buenos Aires. Além daqueles que figuram no episódio lisboeta, em que Carrión é um cicerone que oscila entre a voz-off e a presença pontual no ecrã, a série chega a nomes como os dos escritores Enrique Vila-Matas, Leila Guerriero, Gabriela Wiener ou Elena Medel, do editor Jorge Herralde, da cronista e vencedora do Prémio Cervantes Elena Poniatowska e dos livreiros Miguel Ávila e Lola Larumbe.

Jorge Carrión descreve Booklovers como “a série que faltava no mundo dos livros”, reflectindo sobre “a importância dos livros, dos seus espaços e dos seus agentes no século XXI”. No tempo digital, a série milita pelos livros, mesmo que electrónicos, o que seja, mas que se leia. José Pinho volta no final do episódio para falar do cancro de que sofreu e do legado que quis deixar, e o episódio é-lhe dedicado. E Telma Tvon, que leu junto ao Tejo o início do episódio, regressa também para, novamente no Terreiro do Paço, se despedir em spoken word da “nossa cidade”. “Tão bué, a nossa cidade, tão bué bonita de linda, escura, a nossa cidade.”

O episódio sobre Lisboa estreou-se dia 7 e continuará disponível, à espera que a plataforma se torne oficial e visivelmente mais portuguesa no ano que vem.

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