Ecoansiedade: "Vemos tudo a acontecer ao mesmo tempo e pensamos: quando é que vai chegar a minha vez?"

“Nós vemos nas notícias cheias, fogos, tempestades. Vemos tudo a acontecer ao mesmo tempo e pensamos: quando é que vai chegar a minha vez?”
 

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Quando procurámos uma descrição possível do que é a ansiedade climática, responderam-nos com uma imagem cinematográfica: um carro em andamento, uma pessoa “no meio de uma auto-estrada”, “paralisada” diante do perigo iminente. Seria possível correr, seria possível esbracejar para captar a atenção do condutor, mas o corpo não responde. Ninguém compreende tamanho entorpecimento. Assim é a ecoansiedade.

“Sentir ansiedade [climática] é como estar na posição dessa pessoa. Vemos uma coisa lá ao fundo a vir na nossa direcção e somos incapazes de nos mexer. E tudo isso tem consequências psicossomáticas, começamos a sentir palpitações, a respirar rápido, de uma forma errática, parece que estamos a ter um ataque cardíaco. Não há nada que possamos fazer”, explica ao PÚBLICO Pedro Verde Pinho, um fotógrafo de 34 anos que dá aulas no Instituto Português de Fotografia do Porto.

Já com Teresa Santos, uma bióloga de 31 anos, aconteceu o inverso. Esta investigadora sentiu “desde sempre” ansiedade em relação à ruína progressiva dos ecossistemas terrestres. “Já na escola ouvia falar do Protocolo de Quioto, já andamos nisto das COP [cimeiras do Clima] há 28 anos”, diz. A sua angústia ambiental só se atenuou, conta, quando aderiu à luta climática na Scientist Rebellion.

A última década foi a mais quente desde que há registos. Este ano ainda nem terminou e os cientistas já garantem que será o mais escaldante que já observámos. Ao longo dos últimos 11 meses, a Terra testemunhou múltiplos recordes, incluindo o de temperatura média da superfície do mar e de diminuição do gelo marinho na Antárctida. Num documento recente da Organização Meteorológica Mundial, lê-se que 2023 despede-se deixando “um rasto de devastação e desespero”.