Benfica continua a não vencer, mesmo quando até faz por isso
Houve jogos em que os “encarnados” fizeram pouco por vencer (e em alguns até saíram com mais do que mereciam), mas, frente ao Farense, a lógica teria ditado um triunfo benfiquista – e bem confortável.
Nesta sexta-feira, o Farense definiu que o suplício do Benfica vai continuar por mais uns dias – no mínimo. A equipa algarvia levou do Estádio da Luz um empate (1-1) que deixa os “encarnados” no terceiro jogo consecutivo sem vencerem – a pior sequência da temporada, depois de um empate na Champions e dois jogos sem triunfar frente a equipas cujo objectivo é a permanência na I Liga.
Este jogo deve, ainda assim, ser enquadrado de forma diferente de outros em que os lisboetas não venceram. Vezes existiram em que a equipa de Roger Schmidt fez pouco por vencer, mas, frente ao Farense, a lógica teria ditado um triunfo benfiquista – e bem confortável.
O problema para os “encarnados” é que o golo ainda não é uma soma de oportunidades criadas. Foi o Benfica quem quis ganhar, sim, mas isso não chega.
Sempre o lado direito
A primeira parte atestou um perfil já conhecido da equipa do Farense: é a equipa da I Liga que mais cruzamentos e remates permite.
Até por não abdicar do seu 4x3x3, resistindo à tentação da linha de cinco defesas que muitas equipas levam à Luz, a equipa algarvia sugeria que os corredores seriam para dar “de borla” e que o foco fosse sobrepovoar a zona central da área – e o facto de o Benfica explorar pouco a largura ainda deve ter deixado José Mota mais seguro de que seria esse o caminho certo.
Nessa medida, era fácil de prever que o Benfica poderia ter muito espaço para explorar nas alas e os “encarnados” tentaram capitalizá-lo. A “receita” repetiu-se várias vezes, sempre com o foco de atrair o Farense ao corredor direito.
Depois, duas hipóteses: se a linha de quatro defesas acompanhasse esse movimento, a bola era colocada rapidamente no lado oposto, com cruzamentos largos. Se a linha do Farense não acompanhasse esse apelo à largura, então o lateral-esquerdo estaria sujeito a um contra um, abandonado pelo seu central, que ficava longe da dobra – aconteceu duas vezes, quando o central “escaldado” pelos lances anteriores, preferiu fechar a zona interior.
O Benfica criou lances deste tipo em várias ocasiões: 1’, 12’, 14’, 26’ e 38’, com finalizações infelizes após cruzamentos – só Rafa teve três na zona da “pequena área”.
Ainda houve uma transição mal finalizada por Tengstedt, além de um cabeceamento de Otamendi ao poste e uma clara oportunidade de golo depois de uma perda de bola do Farense em zona defensiva – também essas duas tendências dos algarvios, que são a equipa com pior percentagem de acerto no passe e uma das que mais golos sofreu em bolas paradas.
Em suma, o Benfica, sempre a criar jogo pela direita – algo consentido pelo Farense –, somou oportunidades para marcar um, dois, três ou mesmo uma mão-cheia de golos. Valeram, até ao intervalo, a acção do guarda-redes Ricardo Velho, que esteve sempre no local certo, e alguma colaboração dos jogadores do Benfica, com várias finalizações fracas em situações bastante favoráveis. Nesse capítulo, Rafa leva um bom quinhão de responsabilidade, com conclusões muito infelizes de boas oportunidades de golo.
Rafa... finalmente
Na segunda parte, o Farense chegou ao 1-0 num canto – apesar de sofrer muito nas bolas paradas, também marca bastante: já foi o sexto golo, este marcado por Falcão, depois de um canto de Mattheus Oliveira.
O resultado não tinha nada que ver com o que se passava em campo, mas, em rigor, a produção e “genica” ofensivas do Benfica também estavam em queda.
Roger Schmidt, muitas vezes criticado por mexer tarde na equipa, fez alterações aos 64’ e a Luz não gostou das trocas de Tengstedt e João Neves por Musa e Gonçalo Guedes – fica por saber se a ira dos adeptos se deveu à saída de um ponta-de-lança ou do “menino” da casa.
Aos 71’, a “receita” repetida vezes sem conta teve, finalmente, sucesso. O Farense “ofereceu” a ala direita, como fez durante todo o jogo, mas desta vez com uma diferença: um dos centrais, Muscat, decidiu sair da linha defensiva para “abafar” o portador da bola e desmontou todo o bloco.
Di María esperou por Muscat para libertar Aursnes e o norueguês cruzou para Rafa aparecer no espaço que deveria ser de Muscat – e finalizou finalmente com qualidade.
Rafa ainda desperdiçou mais duas oportunidades de golo (mais duas jogadas pela direita), mas o resultado não mais se alterou.