Maria Gadú percorre a carreira em palco com um novo disco “absolutamente pessoal”

Cantora e compositora brasileira está de volta aos palcos portugueses com um disco que espelha a sua vida em canções de grandes autores. Sábado em Lisboa e domingo no Porto.

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Maria Gadú em palco em 2017 SIMONE KONTRALUZ
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Depois de Guelã (2015), disco em que assinava todas as canções, a cantora e compositora brasileira Maria Gadú está de volta aos palcos portugueses com um álbum onde tem as rédeas de tudo (desde a produção aos instrumentos) mas onde não assina uma só canção: Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor. É, como ela diz, um álbum de homenagem a grandes criadores da música brasileira. Sábado dia 9 actuará em Lisboa, no Capitólio (21h) e domingo no Porto, no Hard Club (21h).

Cantado em português, inglês, italiano e espanhol, o novo disco de Maria Gadú exibe na capa uma fotografia da cantora com um ano e meio de idade. E as canções foram escolhidas de entre as que mais marcaram o seu percurso na música. “A maioria das pessoas contabiliza a carreira a partir dos discos, mas eu contabilizo desde o momento em que comecei a trabalhar com música”, explica Maria Gadú ao PÚBLICO, pelo telefone, a partir de Itália. “Então, quando eu estava completando 20 anos de carreira, resolvi fazer um álbum em que eu pudesse fazer tudo: produzir, tocar todos os instrumentos, enfim, como homenagem: às instrumentistas mulheres, à autonomia da gente dentro da música e também a tantos anos que eu cantei nos bares esse repertório brasileiro tão rico e essas músicas que faziam sentido para mim naquele momento em que eu estava registando o álbum.”

Para ela, “é um disco absolutamente pessoal”: “Foi difícil escolher as canções, mas optei pelas que faziam sentido no momento em que estava gravando. A gente estava num período muito difícil no Brasil [a pandemia de covid-19, o governo Bolsonaro] e por isso escolhi Faroeste caboclo, que é esse relicário magnífico do Renato Russo, bem como a finitude da vida que tem na canção Coisas da vida, da Rita Lee [1947-2023], canções que faziam parte da minha vida naquele momento.”

O título do disco vem de uma canção de Lô e Márcio Borges, Quem sabe isso quer dizer amor, que Milton também cantou: “Gravei essa canção porque durante o processo de gravação perdi a minha madrinha, minha segunda mãe. Pude me despedir dela, isso foi muito bonito, e essa canção trazia essa sensação. Por isso foi nome do álbum, uma forma de entregar o álbum de presente pra ela.”

O amor, como tema, está presente noutras canções do álbum, como Flying without wings, dos Westlife; Este amor, de Caetano Veloso; ou Lindo lago do amor, de Gonzaguinha. “Nasci nos anos 80 [em 1986] e vivi aquele boom das boy’s bands. Essa [os Westlife] era uma banda que nem fazia tanto sucesso no Brasil, mas fazia parte da minha adolescência. E me dei conta que essa canção era riquíssima de sentimentos, como encontrar no amor esse famoso voo sem asas. Às vezes, a gente ignora a adolescência, mas eu adoro a fase adolescente e adoro o que então ouvia.” As outras duas são de autores que ela tem gravado muito: “A canção do Gonzaguinha traz a leveza de que o disco precisava, é lindíssima. E naquele momento, no Brasil, a gente precisava de um mergulho no amor. E a do Caetano é das minhas preferidas dele, acho o refrão uma coisa linda. Fiquei anos tentando entender o que era ‘siboney’, me intrigava muito. Gravei tantas dele e resolvi gravar mais essa.”

Em italiano, Maria Gadú canta A me ricordi il mare, de Daniele Silvestri): “A primeira canção que aprendi quando cheguei a Itália, há quase 20 anos, foi essa, porque o disco do Daniele tinha acabado de sair. É uma canção com muitas palavras e me ajudou muito no entendimento da língua, dos tempos poéticos do italiano. Foi uma canção que marcou a história da minha primeira vinda à Europa.” E em espanhol canta uma canção argentina, El tiempo está después, de Fernando Cabrera, que viria a ser gravada também por Jorge Drexler. “Conheci-a na voz da Liliana Herrero, que é uma das maiores vozes da Argentina, uma grande activista que lutou muito contra a ditadura”, diz Maria Gadú. “E, naquele tempo, essa canção me trouxe de novo essa necessidade, de colocar uma grande dose de esperança nesse momento desesperador, no meio do governo Bolsonaro. A canção diz: ‘Um dia nos encontraremos em outro Carnaval”. E esse Carnaval chegou, graças a Deus!”

Nos concertos de Lisboa e Porto, a par do novo disco, haverá canções de toda a sua discografia, promete: “O show é uma grande passagem por toda a minha história. Então eu faço canções desse álbum e de todos os outros. Foi bem difícil seleccionar o repertório, mas tem músicas de todos os meus discos. É bem celebrativo e bem bonito, esse concerto.” Com Maria Gadú (voz e guitarra) estarão Felipe Roseno (percussão), David Nascimento (baixo) e Gabriel Grossi (clarinete).

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