Ordem insiste com hospital para dar “dados concretos” sobre o caso das gémeas

Segundo o bastonário, foram pedidos “dados concretos, objectivos, factuais” para a Ordem poder intervir caso seja necessário em relação a aspectos técnicos, como a aspectos ético-deontológicos.

Foto
Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos quer ter acesso a dados concretos para poder avaliar situação Matilde Fieschi
Ouça este artigo
00:00
02:25

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Ordem dos Médicos (OM) voltou a requerer ao Hospital de Santa Maria "dados concretos" sobre o caso das gémeas luso-brasileiras para poder intervir caso seja necessário, disse esta quinta-feira à agência Lusa o bastonário Carlos Cortes.

Por falta de resposta a um primeiro pedido, a OM "voltou a insistir porque há um conjunto de aspectos que é importante avaliar", nomeadamente questões técnicas, mas também ético-deontológicas, adiantou Carlos Cortes.

Segundo o bastonário, foram pedidos "dados concretos, objectivos, factuais" para a Ordem dos Médicos poder intervir caso seja necessário tanto em relação a aspectos técnicos, como se for o caso, em relação a aspectos ético-deontológicos. "Não nos podemos esquecer que a Ordem dos Médicos tem um papel muito importante do ponto de vista disciplinar dos médicos e, portanto, estamos a analisar a situação neste âmbito", sublinhou.

Para o bastonário, o caso das gémeas luso-brasileiras que vieram a Portugal em 2020 receber tratamento com o medicamento Zolgensma, - um dos mais caros do mundo - para a atrofia muscular espinhal, que totalizou quatro milhões de euros, implica outra situação preocupante que se prende com a "igualdade e equidade".

"Há regras no SNS, e os princípios basilares da igualdade e equidade parece que foram violados, foram desrespeitados, segundo as notícias que têm vindo a público sobre o caso", lamentou o bastonário.

O caso das gémeas foi revelado numa reportagem da TVI, transmitida no início de Novembro, segundo a qual duas crianças luso-brasileiras vieram a Portugal em 2020 receber o medicamento Zolgensma, havendo suspeitas de que tal tivesse acontecido por influência do Presidente da República, que negou qualquer interferência no caso.

Na segunda-feira, numa declaração aos jornalistas no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou que o seu filho Nuno Rebelo de Sousa o contactou sobre este caso em 2019. O chefe de Estado defendeu que o tratamento dado ao caso das gémeas foi neutral e igual a tantos outros e informou que a correspondência na Presidência da República sobre o mesmo foi remetida para a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Além da PGR e da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), o caso está a ser também objecto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.

A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde indicou esta quinta-feira estar a ouvir profissionais de saúde, gestores de hospitais, organismos do Ministério da Saúde e familiares das gémeas luso-brasileiras, prevendo a recolha de "mais evidências" junto de decisores de vários níveis.