Polícia desvia marcha extremista em Jerusalém
Organizadores queriam “controlo total judaico” no Monte do Templo/Pátio das Mesquitas. Polícia autorizou a marcha mas depois impediu-a de seguir.
O dia foi passado em crescendo depois de a polícia ter dado aprovação a uma marcha de extremistas em Jerusalém, com permissão para que entrassem na zona muçulmana da Cidade Velha, no que era visto como um modo de incendiar uma situação já volátil num país em guerra.
Foi precisamente uma marcha deste género que contribuiu para a guerra de 2021, em que além de ataques do Hamas e de Israel houve ainda motins dos palestinianos cidadãos de Israel nas chamadas cidades mistas, em que há uma minoria palestiniana/árabe significativa, e ataques de judeus contra eles.
Estas marchas costumam ser marcadas por palavras de ordem de ódio como “morte aos árabes”, o que aconteceu também na marcha de ontem, fora dos muros da Cidade Velha. O objectivo declarado era pedir o “controlo judaico total” no Monte do Templo/Pátio das Mesquitas, o local que é gerido pela comissão islâmica Waqf, e decretar o fim desta autoridade.
A polícia, e os políticos, estavam a ser criticados por ter havido uma autorização para uma marcha que poderia ter um efeito incendiário não só para os palestinianos cidadãos israelitas como para forças como o Hezbollah, quando há uma guerra em curso, mas, apesar de algumas pequenas escaramuças, a polícia acabou por, sem aviso, desmobilizar os manifestantes.
A polícia justificou a acção dizendo que os manifestantes violaram os termos acordados e que, por isso, não permitiu a continuação da marcha.
“Isto não era de todo o que eu esperava”, comentou no Twitter Daniel Seidemann, advogado especializado na geopolítica da Jerusalém contemporânea. “Depois de ter aprovado a marcha nos termos em que negociou com a organização [com um limite de 200 pessoas, por exemplo], a polícia simplesmente não permitiu que a marcha acontecesse”, relatou.
Para Seidemann, só há uma explicação para esta mudança em cima do acontecimento: uma ordem directa de Benjamin Netanyahu, numa “rara demonstração de escuta de aliados”. Mas isto não quer dizer que o perigo tenha passado, opina o especialista, dizendo que o ministro do Interior Itamar Ben-Gvir, de extrema-direita, estará “humilhado” e por isso é de ter em atenção o que fará, e ver ainda o que poderá acontecer nas orações de sexta-feira, as mais importantes da semana, na mesquita de Al-Aqsa.
Ben-Gvir está por trás de uma campanha para acesso mais fácil a armas por colonos e ainda é responsável por uma ordem às forças de segurança para que não interfiram nas agressões de colonos contra palestinianos.
Os EUA anunciaram esta semana sanções aos colonos israelitas que atacaram palestinianos na Cisjordânia ocupada, não permitindo a sua entrada, nem de familiares seus, nos Estados Unidos.