Primeiro a descrença, depois a violência: Santos despromovido pela primeira vez em 111 anos

Derrota no último minuto, com o Fortaleza, confirmou queda para a Série B e desencadeou tumultos na Vila Belmiro.

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Momento do jogo entre Santos e Fortaleza Raul Baretta / Santos FC
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Quase um ano depois do adeus a Pelé, que partiu para o Olimpo a 29 de Dezembro de 2022, o Santos não resistiu a uma temporada marcada pela instabilidade financeira e por uma gestão de três anos de André Rueda, que cessa funções após as eleições deste sábado.

A frustração dos adeptos do “peixe” explodiu no exacto momento em que o avançado argentino Juan Martin Lucero aproveitou, no último minuto do tempo de compensação (90+6’), o desespero do Santos e o adiantamento do guarda-redes João Paulo para dar o triunfo (1-2) ao Fortaleza e sentenciar a despromoção inédita do Santos, após 111 anos de Brasileirão.

A notícia do “rebaixamento” do clube de Pelé e Neymar (que publicou mensagem de ânimo nas redes sociais) correu mundo, associada aos confrontos violentos que decorreram na Vila Belmiro. A fúria deixou um rasto de destruição, com carros e autocarros incendiados.

Cenas recorrentes e vistas em anos anteriores, marcados pela queda de uma série de históricos que viveram o mesmo drama, de que são exemplo o Vasco da Gama, em 2008 (voltou a descer em 2013, 2015 e 2020), o Grémio, em 2022 (depois de ter sido despromovido pela primeira vez em 1991 e repetido em 2004), para além de Botafogo, em 2014 (caiu ainda em 2020 e 2022), Cruzeiro (2019), Internacional de Porto Alegre (2016) e até o bicampeão Palmeiras (2002 e 2012).

Flamengo e São Paulo são, por isso, os únicos clubes que disputaram todas as edições do Brasileirão, havendo ainda o Cuiabá (fundado em 2001), que ascendeu ao primeiro patamar em 2021 e ainda não conhece o sabor da despromoção à Série B.

Época atribulada, com quatro treinadores

A verdade é que depois de o Cruzeiro ter evitado um fecho de época dramático, escapando às contas da despromoção na penúltima ronda, sobraram o Vasco da Gama, o Bahia e o Santos, com a formação do litoral paulista a ser literalmente ultrapassada por cariocas e baianos.

O Vasco venceu (2-1) o Bragantino de Pedro Caixinha, sexto da geral (a dois pontos do Botafogo), e o Bahia goleou o Atlético Mineiro (4-1), de Luiz Felipe Scolari, que alimentou até à penúltima ronda a esperança de ser campeão, terminando em terceiro.

Restava, por isso, ao Santos vencer o Fortaleza na Vila Belmiro, onde as nuvens ficaram carregadas com o golo de Marinho, que, livre de marcação junto à linha de meio-campo, se isolou e bateu João Paulo antes do intervalo.

Messias ainda deu alento ao “peixe”, que correu riscos altíssimos para desempatar e sofreu um golo que ditou a despromoção e o início instantâneo dos incidentes, com petardos e invasão do terreno de jogo que levaram os nordestinos a correrem para o balneário.

Era o fim de uma temporada frustrante, que contou com 21 contratações (apenas João Paulo, Lucas Braga e Soteldo transitaram da época anterior), quatro treinadores (Odair Hellmann, Paulo Turra, Diego Aguirre e Marcelo Fernandes), o afastamento de dois jogadores (Eduardo Bauermann e Soteldo) e a desvalorização do factor casa (não ganhou nenhum dos último quatro jogos como anfitrião).

Com os ânimos descontrolados entre alguns adeptos, no final da partida foi necessária a intervenção da polícia militar, dispositivo insuficiente, ainda assim, para travar a onda de vandalismo. Entre os veículos que foram incendiados contava-se, por exemplo, o carro do extremo Stiven Mendoza. Uma das vítimas colaterais do insucesso colectivo de um histórico brasileiro, que soma 12 títulos estaduais, seis campeonatos e duas Libertadores. E que, na próxima época, acompanhará o América Mineiro, o Coritiba e o Goiás na Série B.

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