Abel Ferreira volta a ser campeão no Brasileirão
Palmeiras empata com Cruzeiro e volta a sagrar-se campeão, consumada a derrocada dramática do Botafogo. Santos despromovido, Atlético Mineiro surpreendido. Futuro de Abel Ferreira em aberto.
Era um desfecho mais que anunciado. O Palmeiras foi esta noite a Belo Horizonte com a certeza de que bastava empatar nesta última jornada para sagrar-se campeão da Liga Brasileira pelo segundo ano consecutivo, mas sabendo que uma derrota também seria suficiente: teria sido necessário que um dos seus adversários directos não só vencesse para atingir a igualdade pontual com a equipa do português Abel Ferreira, como que triunfasse por números absolutamente esmagadores para ultrapassar o diferencial de golos palmeirense. Mas o Atlético Mineiro e o Flamengo saíram derrotados dos respectivos embates com o Bahia (4-1) e o São Paulo (1-0), enquanto o Palmeiras não cedeu mais que um empate com o Cruzeiro (1-1).
Menos esperado foi o caminho feito pelo Palmeiras para chegar a este título. A equipa de Abel Ferreira chegou a estar a 14 pontos da liderança mas foi o principal beneficiário da derrocada extraordinária do Botafogo, que de líder isolado e possível campeão tombou desastrosamente para o quinto lugar, vendo Luís Castro fugir para o Al-Nassr de Cristiano Ronaldo quando o clube ainda estava em alta, perdendo Bruno Lage em três meses e acabando sob tutela interina e com o dono do clube, John Textor, a alegar que a equipa foi roubada pelos árbitros e pelos adversários para justificar a crise de resultados.
Terá sido difícil de engolir para Textor e para os cariocas sobretudo a derrota por 4-3 com o Palmeiras, precisamente, mas a reviravolta dramática do marcador nesse jogo teve um nome, o mesmo que protagonizou a fase final da temporada do Palmeiras: Endrick, um diamante de 17 anos com bilhete de avião já comprado para Madrid, onde se juntará ao Real em Julho. Leva na bagagem, para já, dois recordes roubados a Neymar: é o mais jovem campeão brasileiro de sempre e o mais jovem a chegar aos 10 golos no principal escalão do futebol brasileiro. Foi também de Endrick o golo do Palmeiras, esta noite, em Belo Horizonte.
Houve mais que Endrick, porém, para o Palmeiras regressar ao título. Houve Abel Ferreira e a sua receita habitual, reafirmada nestas últimas semanas: uma defesa sólida e um ataque tremendamente eficaz perante as oportunidades oferecidas. E houve a sorte de uns e o azar de outros.
O que haverá daqui para a frente é uma incógnita. Abel Ferreira termina o terceiro ano em São Paulo como bicampeão e com nove títulos conquistados (está a um do recorde de Oswaldo Brandão no clube), incluindo duas Libertadores. Mas o português não tem escondido o seu cansaço e desagrado com diversos aspectos do futebol brasileiro, criticando abertamente o calendário competitivo intenso, a qualidade da arbitragem e a agressividade da imprensa e dos comentadores, cujos ataques chegam por vezes a exibir um teor xenófobo.
Tem pela frente mais um ano de contrato com o Palmeiras, mas haverá outro à sua espera, de valores multimilionários, no Al-Sadd do Qatar. A troca seria financeiramente vantajosa mas desportivamente duvidosa: o clube do emirado, apesar de bem encaminhado na frente doméstica, acaba de cair nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões da Ásia. Sem nunca se referir explicitamente a esta ou a qualquer outra hipótese, Abel tem alimentado o suspense, que poderá desfazer-se nos próximos dias, terminado o campeonato.
Santos desce à série B, Atlético perde o segundo lugar
Noutras contas da última jornada, o Grémio Porto Alegrense conseguiu terminar o Brasileirão no segundo lugar, derrotando fora o Fluminense, campeão da Libertadores, por 3-2. Atlético, Flamengo e Botafogo (que perdeu 3-1 com o Internacional em Porto Alegre) fecharam o campeonato com derrotas e, pela respectiva ordem, o top 5. O Botafogo acaba sem acesso directo à fase de grupo da Libertadores.
No campeonato dos aflitos, o histórico Santos foi perder 2-1 a Fortaleza e é despromovido à série B com Goiás, Coritiba e América. Salvou-se o Vasco da Gama, que derrotou em casa o Red Bull Bragantino por 2-1, e o Bahia, que bateu o Atlético Mineiro por um estrondoso 4-1 na maior surpresa da jornada final.