Pra não dizer que não falei… dos cardos ortográficos

O que está mal, nos “fato” e “contatos”, não é a influência da presença brasileira, mas a nossa propensão para o servilismo e o desleixo.

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Há cerca de ano e meio, socorri-me do título de uma conhecida canção de protesto brasileira, Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, para intitular uma destas crónicas, a que chamei “Pra não dizer que não falei das flores (nem dos fatos)”. Foi publicada em Agosto de 2022 e nasceu de uma insistente utilização na grafia portuguesa da palavra “fato” por facto, não se sabe se por preguiça ou por cópia displicente. Pois bem: não só tal utilização se manteve, como se vem arrastando em certos escritos, enquanto na oralidade se mantêm os factos com o “c” pronunciado. Ao mesmo tempo, e também por mimetismo, os “contatos” vão por cá substituindo os contactos, até mesmo em instituições que deviam saber distinguir o uso de tais termos no português de Portugal e no português do Brasil. Será fatalidade, tal deturpação na grafia de palavras que nem o Acordo Ortográfico de 1990 mudou, deixando bem claro que na norma brasileira se escreve “fato” e “contato”, enquanto na portuguesa é “facto” e “contacto”?

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