Moody’s sinaliza que poderá baixar o rating da China
Agência internacional passa a ter perspectiva “negativa” para o rating chinês. Abrandamento da economia, excessos no sector imobiliário e endividamento dos governos regionais e locais são os motivos.
As perspectivas de abrandamento na actividade económica, o risco de uma correcção brusca no mercado imobiliário e o elevado endividamento das regiões e municípios levaram a agência de notação financeira Moody’s a colocar esta terça-feira o rating da China sob alerta negativo, em mais um sinal das dificuldades que atravessa a economia do gigante asiático.
A Moody’s, uma das três maiores agências no mundo, atribui à China um rating “A1” desde 2017, tendo mantido desde esse momento uma perspectiva “estável” para a evolução desta classificação. No entanto, esta terça-feira este cenário mudou.
A perspectiva atribuída ao rating passou a ser “negativa”, o que significa na prática que são agora mais altas as probabilidades de a Moody’s vir durante os próximos meses a baixar a nota que atribui à China.
Os ratings com que as agências de notação financeira classificam os países são o resultado da avaliação que é feita à capacidade dos respectivos Estados fazerem face aos compromissos que têm com os seus credores. Para esta avaliação, as agências levam em conta, entre outros factores, o nível de endividamento público e as perspectivas de crescimento da economia, já que esse é um factor essencial para aferir a capacidade que o Estado terá de obter receitas que lhe permitam pagar as suas dívidas.
No caso da China, a Moody’s está agora mais preocupada com aquilo que está a observar tanto na economia como nas finanças públicas. No comunicado em que anunciou a decisão, a agência diz que a perspectiva mais negativa em relação ao défice “reflecte os sinais cada vez mais evidentes de que o sector público terá de providenciar apoio aos governos regionais e locais em situação de stress financeiro, o que coloca riscos negativos à solidez orçamental, económica e institucional da China”.
Para além disso, os analistas da Moody’s mostram também receios relativamente ao que dizem ser “o crescimento de médio prazo persistentemente mais baixo e a actual processo de contracção do sector imobiliário”.
A Moody’s reviu em baixa as suas previsões de crescimento para a economia que, depois de uma variação do PIB que se estima poder ser de 5% este ano, se antecipa que cresça 4% tanto em 2024 como em 2025, apontando depois para uma média de 3,8% ao ano no período entre 2026 e 2030.
Estes são valores que, para a China, ficam bastante abaixo da média das últimas décadas, num cenário em que a maior economia asiática sente a pressão trazida, não só pela acumulação de níveis de endividamento privado e público elevados, como também pelas tensões crescentes que se sentem nas relações comerciais internacionais. O modelo de crescimento chinês baseado nas exportações e na expansão explosiva do mercado imobiliário está a ser colocado em causa, forçando as autoridades a lançarem estímulos públicos que, para além de ainda não estarem a garantir que a economia saia do ritmo mais lento em que entrou desde a pandemia, podem ameaçar ainda mais a sustentabilidade das finanças públicas do país.
A reacção imediata das autoridades da China à decisão anunciada pela Moody’s foi, sem surpresas, negativa. “As preocupações da Moody’s em relação às perspectivas de crescimento económico, sustentabilidade orçamental e outros aspectos são desnecessárias”, lê-se num comunicado emitido pelo Ministério das Finanças da China.