No BCE já se admite que nova subida dos juros é “bastante improvável”
Queda da inflação na zona euro conhecida na semana passada mudou discurso em Frankfurt. E, nos mercados, a taxa de juro da dívida portuguesa baixou a barreira dos 3%.
Depois de se saber na semana passada que a taxa de inflação na zona euro caiu para 2,4% em Novembro, aproximando-se mais rapidamente do que o previsto da meta de 2%, os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) começam a mudar o discurso em relação ao que poderá acontecer às taxas de juro, parecendo dar razão aos mercados que já antecipam que o próximo movimento poderá ser descendente e acontecer logo em Março.
Isabel Schnabel, a economista alemã que faz parte do conselho executivo do BCE, foi a portadora de boas notícias para todos aqueles que têm as prestações de crédito indexadas à Euribor, que, por sua vez, reflecte o nível das taxas de juro de referência do banco central.
Se, há apenas um mês, afirmava que uma nova subida das taxas de juro por parte do BCE ainda se mantinha uma opção e, há duas semanas, no Porto, apenas afirmava ser cedo “para declarar vitória” contra a inflação, agora, numa entrevista à Reuters publicada esta terça-feira, Schnabel reconhece que os números da inflação publicados pelo Eurostat na semana passada a fizeram mudar de opinião.
“Quando os factos mudam, eu mudo de opinião”, disse, parafraseando o economista britânico John Maynard Keynes e acrescentando logo a seguir que “o número mais recente da inflação tornou uma nova subida de taxas de juro bastante improvável”.
Este tipo de declaração já fica mais em linha com aquilo que são actualmente as expectativas dos investidores. No mercado de futuros, os indicadores apontam para que, durante o ano de 2024, o BCE realize já um corte de 1,25 pontos percentuais na sua principal taxa de juro de referência, que está agora nos 4%, com a primeira descida de 0,25 pontos a ser efectuada logo em Março.
Entre Julho do ano passado e Setembro deste ano, o banco central realizou dez subidas consecutivas das taxas de juro de depósito (que servem de principal referência aos custos de financiamento na zona euro), passando-as de -0,5% para os actuais 4%. Desde a reunião de Setembro, decidiu parar.
Isabel Schnabel, na entrevista à Reuters, também não repetiu a ideia transmitida por vários responsáveis do BCE nos últimos meses de que os mercados estarão a fazer uma leitura errada da situação, quando prevêem descidas nos juros. Em vez disso, preferiu alertar para a dificuldade que representa na actual conjuntura fazer previsões com meses de antecedência. “Temos sido surpreendidos muitas vezes em ambas as direcções. Portanto, devemos ser cautelosos a fazer declarações acerca de algo que irá acontecer dentro de seis meses”, afirmou.
Juros da dívida a cair
De qualquer modo, depois dos dados da inflação de Novembro conhecidos na quinta-feira passada, as declarações de Isabel Schnabel esta terça-feira têm tudo para conduzir as taxas de juro praticadas nos mercados para uma estagnação ou mesmo uma trajectória descendente.
As taxas de juro Euribor a seis meses, por exemplo, têm-se mantido na casa dos 3,8% já desde Setembro e a tendência deverá ser, à medida que ganha força a ideia de que o BCE pode baixar as suas taxas de juro de referência ao longo de 2024, para uma progressiva descida.
E nas taxas de juro de longo prazo da dívida pública já tem sido evidente, ao longo da última semana, que os custos de financiamento estão a baixar na zona euro.
No caso de Portugal, a taxa de juro da dívida pública a 10 anos, que no final de Setembro se aproximou dos 3,8%, desceu de forma acentuada na quinta-feira passada, quando se conheceram os dados da inflação, e voltou a fazer o mesmo esta terça-feira a seguir a ser publicada a entrevista de Isabel Schnabel, ficando aquém da barreira dos 3% e atingindo o valor mais baixo desde o passado mês de Fevereiro.