Pelo menos 2456 representantes de grupos ligados aos combustíveis fósseis estão acreditados para participar na COP28 no Dubai, de acordo com um comunicado da coligação Kick Big Polluters Out (Expulsar os Grandes Poluidores). Trata-se de uma presença sem precedentes do lobby desta indústria nas cimeiras do clima da ONU – quase quatro vezes mais do que o número registado para a COP27, no Egipto –, levantando novas questões sobre a influência da indústria dos combustíveis fósseis na COP28, presidida pelo presidente da petrolífera estatal dos Emirados Árabes Unidos, Sultan Al Jaber.
No ano passado, por sua vez, já tinha sido um ano recorde de participantes ligados à indústria dos combustíveis fósseis: 636 participantes na COP27, em Sharm El-Sheik, estavam ligados a empresas ou lobbies do petróleo ou do gás.
Se os participantes que representam os interesses de empresas de petróleo e gás, como a Shell, a Total e a ExxonMobil, fossem uma “delegação”, esta seria a terceira maior da COP28, atrás apenas dos EAU, país anfitrião que registou 4409 participantes, e do Brasil, que deverá dirigir a COP30 em 2025 e trouxe 3081 pessoas.
Na lista da delegação portuguesa, há dois representantes da Galp e dois da PRF Gas Solutions, empresas que têm produção ou transporte de combustíveis fósseis no seu portefólio. Contudo, o Azul ainda não teve confirmação da Kick Big Polluters Out se estas empresas estão contabilizadas na lista desta coligação.
Por comparação, estão oficialmente registados apenas 316 representantes de comunidades indígenas, o que faz prever uma enorme desproporção na potencial influência que podem ter nas negociações, deixando para trás as comunidades da linha da frente do combate às alterações climáticas. A coligação Kick Big Polluters Out compara ainda estes 2456 participantes das indústrias fósseis com os 1509 delegados enviados pelos dez países mais vulneráveis do mundo em matéria climática.
Num ano em que as temperaturas globais e as emissões de gases com efeito de estufa bateram recordes, este aumento coincide também com uma COP em que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é um dos pontos fulcrais das negociações.
À entrada do recinto, nesta terça-feira, os participantes cruzaram-se com um protesto contra os grandes poluidores. Estas acções contra as indústrias de combustíveis fósseis devem multiplicar-se ao longo deste dia dedicado à energia, indústria e transição justa, reforçando apelos da sociedade civil em geral para que os poluidores sejam afastados das negociações.