Um cão e um vulto

Encontrou nesse cão um lugar para si, um espaço de tranquilidade. Quando passava as mãos pela cabeça do cachorro era tudo tão verdade. Dava-lhe água e, quando havia, ossos.

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Havia um cão abandonado na aldeia, pêlo crespo, porte médio, carraças e pulgas, que recebia comida da população, além de carícias e desprezo, ossos e restos, paus e pedras, tudo junto, em proporções variadas. Pode não existir nenhum factor de união entre as pessoas, pensamento político, maneira de estar, desejos comuns, mas um simples cão que não pertence a ninguém, fazendo no entanto parte da vida de todos, consegue unir invisivelmente toda a comunidade. Nenhum habitante está ciente desse cimento, de como o cão que alimentam, apedrejam, amam, acariciam, pontapeiam, os une, acontecendo esse cimento simplesmente porque, entre uns e outros, se passeia um ser que é comum a todos, que pertence a todos e que cose todos, como o idiota da aldeia, como o pão da casa, como Deus.

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