Vencedores do BI Award renovam a esperança para um futuro melhor

A cerimónia de entrega de prémios da 2ª edição realizou-se a semana passada, em Lisboa, e distinguiu os três melhores projectos, de entre doze finalistas.

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Promover a sustentabilidade no bloco operatório, garantir um maior acesso a cuidados primários de saúde visual e desenvolver um software capaz de libertar os médicos de muitas tarefas burocráticas, através de Inteligência Artificial (IA) são os objectivos dos projectos premiados na segunda edição do BI Award for Innovation in Healthcare.

A iniciativa, promovida pela Boehringer Ingelheim, com o apoio institucional da Ordem dos Médicos (OM), tem como objectivo distinguir os projectos mais inovadores e capazes de contribuir para a optimização dos cuidados de saúde em Portugal na área da “Sustentabilidade para um futuro comum”. Já não basta falar sobre o tema. É preciso mais. É preciso agir e colocar os serviços de saúde ao dispor dos cidadãos e criar soluções que sejam acessíveis de forma universal.

O primeiro prémio, com um valor monetário de 20 mil euros, foi entregue ao projecto ROSE - Enviroment Sustainability Of The Operating Room, desenvolvido no Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUSA), no Porto, projecto que surgiu da necessidade de minorar o impacto ambiental do bloco operatório, responsável pela produção de até 20% de resíduos hospitalares anuais.

O ROSE actua na triagem de resíduos, na sustentabilidade hídrica, na emissão de gases com efeito de estufa ou nos fumos hospitalares, o que permite proteger o ambiente e gerar poupança para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).“Estou muito orgulhosa deste grupo que está aqui comigo. Gostaria de agradecer aos seis mentores que estiveram connosco, sobretudo pelo ensinamento e pelo crescimento”, afirmou Ivone Silva, a cirurgiã vascular e líder deste projecto, quando subiu ao palco com a sua equipa para receber o galardão, referindo-se às semanas de mentoria que ajudaram a tornar o projecto mais robusto durante a fase de trabalho colaborativo.

Assumindo que este é um projecto “fora da caixa”, sublinhou que esta é uma aposta na promoção da saúde e deixou o repto ao Conselho de Administração do CHUSA para permitir que as medidas implementadas no bloco operatório sejam alargadas a todo o hospital. Em entrevista recente ao Público, a líder da equipa ROSE afirmava: “Só quando começámos este projecto é que percebemos o pouco que sabíamos sobre o tema.”

Vale a pena inovar

O projecto Ver Melhor, Mais Perto, foi distinguido com o valor monetário de dez mil euros e foi entregue ao oftalmologista Sérgio Azevedo, director do Serviço de Oftalmologia da Unidade Local Saúde Alto Minho que defendeu o alcance e o potencial desta iniciativa. O projecto consiste numa plataforma que visa disponibilizar consultas de oftalmologia aos cidadãos, de forma mais equitativa, diminuindo as deslocações ao hospital e os cuidados associados, implementar rastreios e melhorar o acesso e a jornada do doente.

Defendendo o impacto que este projecto tem no dia-a-dia, Sérgio Azevedo elogiou a organização que “premeia a inovação” porque inovar “é muito difícil, dá muito trabalho, leva tempo, é frustrante ter vários obstáculos durante o processo”. Sublinhou ainda a ideia de que “vale a pena” acreditar pois é fácil e tentador para os profissionais desistirem, pela falta de oportunidades e por “serem engolidos pela rotina”. E, acrescentou: “Inovar coloca-nos fora da nossa zona de conforto, obriga-nos a pensar as coisas de forma diferente, a dar um passo atrás, a não conseguir responder a todas as perguntas, mas constitui a oportunidade de fazer mais, fazer a diferença e, às vezes, mas só às vezes, termos uma forma de mudar o mundo”.

O terceiro prémio, no valor monetário de cinco mil euros, foi atribuído ao projecto MEDSCRIBE.AI, que tem como finalidade reduzir o tempo que os médicos demoram a dar resposta a burocracias, através de um software baseado em Inteligência Artificial que permitirá criar funções automaticamente. Bruno Castilho, em representação da equipa, reconheceu “o trabalho dos médicos portugueses, a sua iniciativa e capacidade de inovação”.

O MEDSRIBE.AI alerta para um “problema que é comum a todos os médicos. “Metade do nosso trabalho é dedicado a tarefas burocráticas. Só no SNS, isto traduz-se em 30 milhões de horas anuais”. Esta solução vai permitir devolver estas horas aos médicos, ao sistema e aos doentes. “Vai possibilitar aos médicos dedicarem-se ao que realmente importa e ao que sabem fazer melhor, que é tratar dos doentes”, rematou.

Durante o contacto com as equipas finalistas e o aconselhamento com os seus mentores, Armando Vieira, Head of Data Science na Hazy e investigador na área de IA e redes neurais artificiais ficou surpreendido com algumas dificuldades encontradas no terreno, desde logo, “a imensa carga burocrática que os médicos têm no seu dia a dia”. A IA pode assim “ajudar a resolver esse problema, por exemplo, no preenchimento de um relatório de alta que é uma tarefa muito minuciosa, um trabalho moroso, com a possibilidade de originar erros”. E tudo isto poderá ser agilizado com este tipo de ferramentas, como a do MEDSCRIBE.AI.

No entanto, alguns projectos de inovação na saúde com IA deparam-se com a falta de recursos pois “não é fácil encontrar pessoal técnico capaz de colaborar com as equipas e desenvolver toda a infraestrutura que é necessária”. A questão dos dados médicos também pode ser uma barreira, uma vez que são privados, e os sistemas de machine learning precisam de muitos dados.

Renovar a esperança

Maria de Belém Roseira, jurista e advogada, antiga ministra da Saúde e ex ministra para a Igualdade, foi um dos membros do júri e afirmou que o sector da saúde contribui também para a poluição atmosférica. Sobre o carácter inovador deste prémio, acrescentou ainda que “no contexto em que vivemos actualmente, chega a ser comovente o facto de, apesar de tantos constrangimentos, termos equipas que se dedicam a fazer mais e melhor.

No âmbito hospitalar, os Conselhos de Administração conseguem ajudar a manter e a incentivar este espírito criativo das pessoas, mas em muitos sítios, as barreiras são imensas”, defendeu. “E eu não suporto viver num País que é asfixiante do ponto de vista da criatividade, da melhoria dos processos e em termos do reconhecimento do médico. Estes prémios constituem um balão de oxigénio que é muito importante para continuarmos a ter pessoas motivadas”, destacou.

No final do evento, Vanessa Jacinto, Head of Market Access and Corporate Affairs da Boehringer Ingelheim Portugal não escondeu a emoção e afirmou que “todos ambicionamos o mesmo: ter um sistema de saúde eficaz, capaz de dar resposta, garantir o acesso equitativo que se traduza em melhores indicadores”.

As ideias reconhecidas nesta edição do BI Award confirmam que “a saúde e a sustentabilidade podem e devem coexistir de uma forma harmoniosa” e permitem idealizar um futuro onde os cuidados de saúde terão um menor impacto no ambiente. “É da partilha de ideias que se constrói o futuro e esta é uma das premissas do BI Award. Esta iniciativa pretende implementar a mudança, que não só é desejável, como inevitável”.

Carlos Cortes, bastonário da OM, reconheceu o esforço das equipas que apresentaram as 100 candidaturas válidas nesta edição, o que é notório do interesse que tem sido dedicado a esta iniciativa. “Confesso que o ambiente vivido nesta cerimónia tem sido muito diferente daquele que tenho tido nos últimos meses”, reforçou. “Houve aqui um ambiente de entusiasmo e falou-se várias vezes em paixão”, salientou, em contraste com o período crítico que o País tem atravessado. “Quando tudo falha, quando as instituições falham, esta iniciativa reforça o sentimento de esperança. “Todos nós somos portadores de esperança num mundo melhor, de propostas para ajudar as pessoas. E de ciência concretizada ao serviço das pessoas”, defendeu.

A cerimónia ficou marcada ainda pelo anúncio da continuidade desta iniciativa e da realização da próxima edição, a acontecer em 2025, com um novo tema e novas oportunidades de candidaturas. Afinal, “nada pode ficar igual quando tudo muda”.