Distribuição alimentar está a recuperar desde 2019, mas emprego diminui
Produtos de marcas próprias das cadeias de distribuição atingem 39,1% das vendas totais do retalho alimentar em 2022, um nível recorde em 11 anos, em que cresceram mais de 70%.
O sector da distribuição alimentar de maior dimensão a operar em Portugal registou uma evolução crescente das vendas, da área e em número de transacções desde 2019, mas o emprego do sector decresceu face ao último ano antes da pandemia.
Os dados das unidades de retalho alimentar de maior dimensão (como hipermercados) ou inseridas em cadeias de grupos económicos com expansão nacional (redes de supermercados) – medidas pelos dados relativos às Unidades Comerciais de Dimensão relevante (UCDR) – relativos a 2022 foram esta segunda-feira divulgados pelo Instituto nacional de Estatística.
No último ano completo, a grande distribuição alimentar (como os grupo Sonae/Continente, proprietário do PÚBLICO, Jerónimo Martins/Pingo Doce, Auchan, Lidl, Aldi ou Mercadona), registaram vendas de 15,3 milhões de euros, mais 8,2% face a 2021 – ano em que já tinha havido um crescimento de 3,2% face ao primeiro ano da pandemia.
Os dados do INE, que se baseiam numa série iniciada em 2011, dão conta que em 11 anos, as unidades de retalho alimentar de maior dimensão (que não contemplam nem o comércio grossista nem o retalho especializado não alimentar) tiveram um crescimento de 40,4% as vendas naquele período.
Em termos de emprego, nos mesmos 11 anos, até houve um aumento de 16,3% - estes foram anos de plena expansão para as cadeias Lidl, Aldi, Auchan e Intermarché e de entrada da Mercadona no mercado português. Mas o que não houve, desde o último de actividade “normal” antes do surgimento da covid-19, foi uma recuperação do volume de emprego.
Os dados agora conhecidos do INE demonstram que houve uma descida de 3,1% da empregabilidade desta unidades de retalho alimentar em Portugal no ano passado, face a 2021 (embora nesse ano tenha havido uma subida de 2,6% face a 2020). E que face a 2019, havia no final de 2022 menos trabalhadores empregues pelo sector. “Face a 2019, ano pré-pandemia, somente o número de pessoas ao serviço evidenciou um retrocesso (-1,1%)”, afirma o INE.
“Em média”, explica ainda o INE, “cada UCDR de retalho alimentar empregava 46,5 trabalhadores” em 2022, menos que as 48,2 pessoas do que a média atingida em 2021 e que as 47,1 pessoas por UCDR 2020. A maioria do pessoal ao serviço nas UCDR de retalho alimentar “eram trabalhadores a tempo completo, os quais representaram 72,3% do pessoal ao serviço total (71,3% em 2021 e 72,4% em 2020)”, e mulheres: para cada 100 trabalhadores nas unidades deste tipo, 69 eram mulheres em 2022.
Nas 1769 unidades de comércio de retalho alimentar que o INE contabilizou com UCDR em funcionamento no final e 2022, com 2,2 milhões de metros quadrados (mais 1% do que em 2021) trabalhavam 82,3 mil trabalhadores.
Em termos de transacções efectuadas por este tipo de comércio, houve uma quebra de 15,6% no primeiro ano da pandemia – que sofreu distúrbios pelos vários confinamentos e restrições à entrada da população nos estabelecimentos –, a que se seguiu uma subida de 5,6% em 2021 e outra de 13,9% em 2022 – ano que se situou 1,5% acima de 2019.
No final do ano passado, o montante médio por transacção foi de 18,3 euros, variando entre os 7,5 euros nas unidades com dimensão inferior a 399 metros quadrados de área de exposição e venda (AEV) e 25,9 euros nas unidades com dimensão igual ou superior a oito mil metros quadrados.
Marca própria cresce 72,7% em 11 anos
Nos 11 anos que a série do INE contempla, as vendas de produtos de marca própria da distribuição nas UCDR de retalho alimentar (ou seja, as marcas que os grupos de distribuição contratam directamente a fabricantes e que assumem como suas, por oposição às marcas comerciais da indústria, que recorre aos supermercados para as distribuir) tiveram um crescimento acima de 70%.
No retalho alimentar, diz o INE, “o aumento no volume de vendas de produtos de marca própria acentuou-se em 2022” (mais 11,6% face a 2021, após um crescimento de 2,7% naquele ano face a 2020), “registando-se um crescimento de 72,7% entre 2011 e 2022, bastante acima do aumento do volume de vendas [total] para o mesmo período”, que foi de 40,3%.
O peso dos produtos de marca própria – tendencialmente de valor de venda ao público menor do que as marcas de fabricantes mais conhecidas por cada segmento – passou assim de 31,7% em 2011, no arranque da série, para 39,1% em 2022, a percentagem “mais elevada proporção desde o início da série”, contextualiza o INE.