Fargo: mais uma história falsamente verídica para os serões de quarta-feira

A quinta temporada da série de antologia inspirada no filme homónimo dos irmãos Coen é a que mais se aproxima da história original. Passa à quarta-feira, às 22h10, no TVCine Edition.

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Juno Temple e Jennifer Jason Leigh na nova temporada de Fargo DR
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"Esta é uma história verídica", diz-nos, mentindo, Fargo, o filme de 1996 dos irmãos Joel e Ethan Coen. Desde 2014 que a série de antologia homónima do FX, cuja acção decorre no mesmo universo do filme, seguindo-lhe o tom cómico macabro, também começa cada episódio com semelhante alegação. Segundo o texto que aparece no ecrã, mudaram-se os nomes a pedido dos sobreviventes e o resto é contado tal e qual como aconteceu, por respeito pelos mortos.

Passados três anos desde a última leva de episódios, a quinta temporada da série escrita e produzida por Noah Hawley chega a Portugal via TVCine Edition, com exibição semanal às quartas-feiras, às 22h10. O segundo episódio vai para o ar esta semana. A temporada passa-se no Minnesota em 2019 e é aquela que mais vai beber ao filme original.

Na obra dos Coen, uma agente da polícia (Frances McDormand) investigava um triplo homicídio: um vendedor de carros contratara dois criminosos (um mais sanguinário e impiedoso do que o outro) para raptarem a sua esposa, filha de um homem de negócios abastado, e pedirem a este um resgate... mas tudo correra mal. Desta feita, a história arranca na comissão que tem a seu cargo planear o festival de Outono de uma escola. Em slow-motion, vê-se toda a gente, professores e pais, à pancada. Uma mãe tenta fugir com a filha. Usa um taser para se defender do professor de matemática. É então que um polícia lhe põe a mão no ombro por trás. O que é que ela faz? Atinge-o também. É presa. E isso desencadeia uma sucessão de eventos que a levam a ser raptada, o que põe ao barulho a sogra abastada, que não a odeia. Só que, ao contrário do que acontece no filme, esta esposa luta contra os raptores e consegue livrar-se deles, o que complica ainda mais as coisas.

Em entrevistas, Noah Hawley tem dito que foi mesmo esse o ponto de partida para a temporada: e se a mulher raptada não fosse indefesa? O argumentista e produtor não é, obviamente, nem Joel nem Ethan Coen, e não lhes chega aos calcanhares. Os irmãos, por sua vez, são produtores executivos da série, à qual dizem não ter grande ligação. Mas os exercícios de Hawley neste universo costumam ser interessantes e ao nível do melhor que se pode esperar de uma empreitada do género.

A acção passa-se na altura do Natal, com muitas referências a O Estranho Mundo de Jack, de Tim Burton. O criador queria também explorar a ideia de "dívida". A sogra, rica e cruel, o tipo de pessoa que obriga a família a segurar em armas até para tirar fotografias de Natal, fez fortuna endividando terceiros. E surge ainda, naturalmente, o tema das ligações entre mães e filhos, pais e filhos, maridos e esposas, ou entre vizinhos.

Outro conceito explorado é a "simpatia do Minnesota", definida logo no primeiro episódio, ainda antes de nos ser mostrado o engodo da "história verídica": "um comportamento agressivamente agradável, frequentemente forçado, em que uma pessoa se mantém alegre e modesta independentemente de quão más as coisas fiquem". Exemplo disso são as interjeições das personagens do filme original, bem como o sotaque de Frances McDormand e a sua calma e simpatia mesmo a lidar com os homicídios mais brutais. Aqui, vê-se a forma como o polimento passivo-agressivo se transforma facilmente em agressividade.

No elenco, que é sempre um dos pontos mais fortes da série, temos nomes como o da britânica Juno Temple, de Ted Lasso, no papel da mulher raptada; Jon Hamm, de Mad Men, o xerife altamente misógino que está atrás dela; Joe Keery, de Stranger Things, o seu filho; Richa Moorjani, de Never Have I Ever, uma agente da polícia; ou Jennifer Jason Leigh, que trabalhou com os Coen em O Grande Salto (1994), encarnando a sogra. E ainda, como é tradição na série (que teve noutras temporadas nomes como o duo Key & Peele ou Chris Rock), gente mais ligada a comédia, como Lamorne Morris, de Jess e os Rapazes, ou Dave Foley, membro da lendária trupe cómica canadiana Kids in the Hall.

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