Morreu Vassilis Vassilikos, o autor do Z que Costa-Gravas filmou
Um dos mais traduzidos escritores gregos, será sobretudo recordado pelo seu romance sobre o assassinato de um deputado grego adaptado ao cinema por Costa-Gavras. Tinha 90 anos.
Era um dos mais traduzidos escritores gregos, autor prolífico que assinou mais de cem livros no decorrer da uma longa vida, mas a sua marca mais duradoura deixou-a com Z, romance político, publicado em 1966, sobre o assassinato de um deputado de esquerda, três anos antes, que se tornou um símbolo da luta contra a ditadura dos coronéis que subjugou a Grécia entre 1967 e 1974. Vassilis Vassilikos morreu esta quinta-feira, aos 90 anos, noticiou a Agência France-Presse.
Nascido em Kavala a 18 de Novembro de 1933, cresceu em Salónica, cidade onde se licenciou em Direito, antes de partir para os Estados Unidos. Regressado ao seu país após estudar realização televisiva na Universidade de Yale, inicia um percurso profissional como jornalista e argumentista. É dele o argumento de Jovens Afrodites, realizado por Nikos Koundouros e premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim de 1963.
Quatro anos depois, estava na lista negra do regime dos coronéis que haviam tomado o poder na Grécia em Abril de 1967. A razão? O romance publicado pouco antes, Z, em que conta a história do assassinato político do deputado de esquerda Grigóris Lambrákis, em Salónica, e do inquérito conduzido pelo juiz de instrução Chrístos Sartzetákis, que seria presidente da Grécia duas décadas depois, entre 1985 e 1990.
Foi já no exílio em França, segunda pátria não só pelos anos nela vividos, mas também pela influência que exerceram sobre ele André Gide, Jean-Paul Sartre e Albert Camus, que Vassilikos assistiu à estreia do filme que lhe deu protagonismo mundial, a adaptação de Z pelo realizador Costa-Gavras. Com Jean-Louis Trintignant (1930-2022) como protagonista e banda sonora de Mikis Theodorakis, a obra aborda o romance de Vassilikos como denúncia da junta militar de extrema-direita que detinha o poder na Grécia e que forçara o escritor ao exílio. O sucesso do filme garantiria igualmente o sucesso internacional do original, traduzido em 32 línguas.
“Perdi um amigo, um irmão", declarou Costa-Gavras ao Libération. “Era um homem extraordinário, de grande inteligência e também de uma grande gentileza. Foi o meu conselheiro em tudo o que tinha a ver com a Grécia. Era sempre preciso e honesto”, acrescentou o realizador.
Descontando um período de três anos, entre 1981 e 1984, em que assumiu o cargo de director-geral adjunto da ERT, a televisão pública grega, viveu entre França, Itália e os Estados Unidos até 1994. Regressado ao seu país, foi embaixador da Grécia na UNESCO, cargo que manteve entre 1996 e 2004.
Casado desde 1983 com a soprano Vaso Papantoniou, foi autor de romances, textos dramatúrgicos e poesia. Em 2019, aos 86 anos, foi eleito deputado para o Parlamento grego, pelo Syriza.