Um mês depois

Tomado pelo silêncio que lhe acontecia sempre que se via em situações difíceis, aquele silêncio pesado que ele segurava na mão como uma faca de serrilha.

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Um mês depois do casamento, ainda nada havia sido consumado. O Urso, quando iam para a cama, ficava parado, olhava-a sem qualquer reacção, enquanto a São se contorcia no meio dos lençóis, esperando qualquer coisa da parte dele, um gesto, um passo na sua direcção, uma palavra, um sorriso, um insulto, que as mãos dele a agarrassem ou que a maltratassem, qualquer coisa excepto aquele silêncio ameaçador e dolente, em que a São, não sabendo o que fazer, se tapava e se destapava, num misto de pudor e sensualidade ingénua, enquanto o Urso mantinha a sua postura de urso, imóvel aos pés da cama, como um soldado, sem pestanejar e com a imponência de uma montanha, mas estando, no fundo, cheio de medo, tomado pelo silêncio que lhe acontecia sempre que se via em situações difíceis, aquele silêncio pesado que ele segurava na mão como uma faca de serrilha.

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