Queda das exportações provocou contracção da economia no terceiro trimestre

Exportações de serviços, incluindo o turismo, registaram a primeira diminuição desde a pandemia. Crescimento do consumo e do investimento não chegaram para compensar contributo negativo para o PIB.

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Contributo do turismo para o crescimento está a diminuir Nelson Garrido
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Com o consumo privado e o investimento a recuperarem de forma moderada, foi o acentuar da queda das exportações, especialmente de serviços em que se inclui o turismo, que levou a economia portuguesa a registar, num cenário de deterioração da conjuntura europeia, uma contracção no terceiro trimestre deste ano, revelam esta quinta-feira os dados das contas nacionais publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

A autoridade estatística confirmou aquilo que já tinha dito há um mês, quando apresentou a estimativa rápida para os dados do PIB do terceiro trimestre: que a economia portuguesa se tinha contraído 0,2% face ao trimestre anterior, pondo a variação homóloga do PIB em 1,9%, uma descida face aos 2,6% do segundo trimestre. Mas, em relação a essa divulgação de dados, acrescentou agora informação detalhada sobre o comportamento das diversas componentes do PIB, o que permite perceber as causas por trás do desempenho mais negativo registado no período entre Julho e Setembro deste ano.

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Os números agora conhecidos revelam, de forma clara, o contributo, pela negativa, das exportações nacionais para o actual momento da economia. Se no primeiro trimestre do ano as vendas de bens e serviços ao estrangeiro surpreenderam pela positiva, dispararam 3,5% e empurraram a economia para um excelente resultado, no segundo trimestre inverteram o sentido com uma diminuição de 1,2% e agora, no terceiro trimestre do ano, não resistiram ao ambiente mais negativo registado nos países clientes e acentuaram as perdas, com uma contracção de 2,3%, que é a mais vincada desde o segundo trimestre de 2021.

Com estes resultados, a variação do valor das exportações face ao mesmo período do ano passado passou de 11% no primeiro trimestre para 4,9% no segundo e apenas 0,1% no terceiro.

Turismo a fraquejar

A quebra nas exportações é motivada essencialmente pela viragem que se verificou na venda de serviços. A exportação de serviços tem vindo a ser um dos motores da economia portuguesa no período pós-pandemia, especialmente por via de uma recuperação muito forte do turismo (as despesas realizadas pelos turistas estrangeiros são registadas como exportações nas contas nacionais).

No entanto, no final deste ano, esta recuperação parece ter perdido toda a sua força. Depois do forte crescimento de 5,6% no primeiro trimestre e da variação ainda ligeiramente positiva de 0,1% no segundo, as exportações portuguesas de serviços caíram de forma acentuada no terceiro trimestre, com uma variação de -3,9%.

É a primeira descida neste indicador desde o primeiro trimestre de 2021 (período em que os casos de covid 19 atingiram recordes) e é a contracção mais acentuada desde o segundo trimestre de 2020, quando a pandemia praticamente congelou toda a actividade turística.

No caso das exportações de bens, o cenário também não é nada positivo, mas ainda assim, depois de uma queda de 1,8% no segundo trimestre, este indicador diminuiu 1,4% no terceiro.

O desempenho negativo das exportações portuguesas acontece num cenário de abrandamento acentuado da economia mundial e, em particular, da europeia, com alguns dos principais clientes dos bens e serviços nacionais, como a Alemanha, em risco de entrarem em recessão. Isto faz com que a procura proveniente do exterior para as empresas portuguesas se ressinta, incluindo naquilo que diz respeito ao turismo.

A acrescentar ao problema, as importações cresceram. A variação de 0,5% ajuda a que, em conjunto com a quebra das exportações, o contributo da procura externa líquida (exportações menos importações) para a variação do PIB de -0,2% tenha sido de -1,3 pontos percentuais.

Em contrapartida, o contributo da procura interna (consumo privado e público mais investimento) até foi positivo, com acelerações no consumo e no investimento, que ajudaram a compensar parcialmente o efeito negativo das exportações registado na variação em cadeia do PIB.

De acordo com o INE, o consumo privado, depois de uma diminuição de 0,5% no segundo trimestre, cresceu 0,5% no terceiro, pondo a sua variação face ao período homólogo nos 0,9% (1,3% no segundo trimestre).

E o investimento, que está a contar com a ajuda decisiva da execução do Plano de Recuperação e Resiliência, cresceu 0,6% no terceiro trimestre, depois da quebra de 0,6% no segundo, pondo a variação homóloga em 3,6% (2,8% no segundo).

No total, o contributo da procura interna para a variação em cadeia do PIB foi positivo em um ponto percentual. Este valor, combinado com o contributo negativo de 1,3 pontos das exportações líquidas e com o efeito do arredondamento, conduziu a que o PIB português caísse 0,2% no terceiro trimestre do ano.

Portugal está assim, tal como várias outras economias na União Europeia, em risco de registar uma recessão técnica durante a segunda metade deste ano, já que esta é definida como a ocorrência de dois trimestres consecutivos de variação negativa do PIB em cadeia. A capacidade de as exportações nacionais travarem a tendência de contracção num cenário que é de abrandamento no resto da Europa poderá ser decisiva para o resultado a alcançar pela economia portuguesa nos três últimos meses do ano.

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