Há uma guerra no Médio Oriente e, no entanto, o preço do petróleo só subiu nos primeiros dias após o ataque do Hamas em Israel, quando muitos recordaram o choque petrolífero da década de 1970, motivado por um conflito, dessa feita entre o Estado hebraico e vários países árabes, a guerra do Yom Kippur. Só que o mundo de hoje é diferente do de há 50 anos: nos últimos tempos, o preço do Brent desceu até 80 dólares por barril.
Uma reunião da OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e da Rússia), marcada para esta quinta-feira pode vir a alterar este quadro. Esta organização, que representa um terço da produção mundial de petróleo e inclui vários países árabes, está a negociar a política de preços para 2024. Tanto podem continuar em vigor as limitações à produção iniciadas em 2022, como serem decididos novos cortes, diz a Reuters. Tem sido difícil chegar a acordo.
Estas decisões podem ser importantes para a discussão que começa também esta quinta-feira na Cimeira do Clima (COP28), nos Emirados Árabes Unidos, onde a questão da saída dos combustíveis fósseis será um dos temas em foco.
Mas, até agora, não houve grande pânico nos mercados face à guerra em Gaza, porque esta não envolve grandes produtores de combustíveis fósseis. Só Israel produz alguma quantidade de gás natural e petróleo, e os palestinianos nada. No entanto, à sua volta estão alguns dos maiores países exportadores e, num cenário de possível alargamento regional do conflito, poderia pensar-se num embargo da venda de petróleo ou gás natural ao Ocidente que fizesse disparar os preços.
Numa perspectiva positiva, a falta de combustíveis fósseis no mercado poderia incentivar a transição para energias renováveis. Mas uma nova corrida aos combustíveis fósseis poderia minar a acção contra as alterações climáticas, como vimos com a invasão da Rússia pela Ucrânia, que gerou lucros recorde às empresas petrolíferas e até mesmo o lançamento de novos projectos de exploração de petróleo e gás, atrasando ainda mais o abandono dos combustíveis cujo uso é o grande responsável pelas alterações climáticas.
Mas, apesar de o Irão ter sugerido um embargo a Israel e aos seus aliados que apoiem a guerra contra o Hamas em Gaza, os países árabes não agarraram a ideia. Seria contraproducente Teerão pôr em risco o abastecimento do seu maior cliente, a China, nota o New York Times.
"O ambiente geopolítico actual é diferente, se comparado com o que era há 50 anos", disse uma fonte da OPEC à agência Reuters, para justificar porque não se está a perspectivar um novo embargo petrolífero. "Dois terços das exportações de petróleo do Conselho de Cooperação do Golfo [organização de integração económica que reúne seis Estados do Golfo Pérsico: Omã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Kuwait] são hoje compradas por clientes asiáticos. E, muito importante, as transformações económicas que estão planeadas e estão a ser aplicadas na região exigem que haja uma ausência de conflitos sustentada", diz uma análise recente do banco de investimento JP Morgan, citada pela Reuters.
Visar os Estados Unidos com um embargo petrolífero não teria o impacto que teve em 1973, por causa da guerra do Yom Kippur. Em 2020, os EUA tornaram-se exportadores líquidos de petróleo em 2020, ou seja, exportam mais do que importam, segundo dados da Administração de Informação sobre Energia dos EUA. Os norte-americanos, além disso, dependem cada vez menos de combustíveis fósseis do Médio Oriente: em 2022, só 12% do petróleo e outro tanto do gás natural importado pelos EUA veio desta região. É ao Canadá que compram a maior parte do petróleo importado.