Puigdemont ameaça fazer cair Sánchez se não vir avanços rumo à independência catalã

Líder separatista catalão diz que eventual acordo com PP só será possível se o deixarem de “tratar como um terrorista”.

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Carles Puigdemont , em Buxelas REUTERS/Yves Herman
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O Juntos pela Catalunha (Junts) estará disposto a retirar o apoio ao Governo do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, “se não houver progressos suficientes” nas negociações para a independência da Catalunha, disse o líder do partido, Carles Puigdemont, citado pelo portal Politico.

Faz precisamente duas semanas, esta quinta-feira, que Pedro Sánchez foi reconduzido no cargo de presidente do Governo de Espanha, depois de um longo processo de negociações com vários partidos independentistas, entre eles o Junts. Menos de 15 dias depois, Puigdemont diz que os sete deputados do seu partido, parte essencial para a maioria parlamentar do PSOE no Parlamento espanhol, estariam abertos a trabalhar com o Partido Popular (PP) para depor Sánchez a meio do mandato.

A informação é avançada pelo Politico, nesta quarta-feira, que cita o líder independentista e eurodeputado catalão, que terá admitido essa possibilidade a Manfred Weber, presidente do Partido Popular Europeu (PPE).

De acordo com o Politico, Weber e Puigdemont conversaram informalmente quando se encontraram num evento em que o político alemão censurou o líder independentista por “alimentar” a extrema-direita do Vox, ao que o catalão respondeu apontando a possibilidade de o Junts chegar a acordos com o PP durante a legislatura. “Mas, para isso acontecer, o PP tem de dar um passo na nossa direcção... Não podem continuar a tratar-me como um terrorista”, disse Puigdemont.

Questionado pela Playbook, uma newsletter do portal Politico, sobre se confirmava estas declarações, o catalão foi taxativo. Se “não houver progressos suficientes” com o Partido Socialista de Sánchez nas negociações para o reconhecimento da Catalunha como nação, “poderíamos votar com o PP para derrubar o orçamento (...) ou para uma resolução sobre Israel, onde a nossa posição está de facto mais alinhada”.​

Ao diário espanhol El País, fontes do PPE confirmam a existência da conversa entre Puigdemont e Weber, assim como o seu teor. Por seu lado, o Junts explica que o que foi dito são “exemplos hipotéticos” durante o que foi uma conversa “informal”. O Junts e o PSOE, segundo escreve o mesmo jornal, vão reunir-se no próximo sábado, em Genebra, na Suíça, pela primeira vez desde a investidura de Pedro Sánchez.

Aos jornalistas, nesta quarta-feira, Alberto Núñez Feijóo, presidente do PP, rejeitou a possibilidade de qualquer acordo com o Junts. “Acredito na Constituição espanhola e isso é incompatível com as actuais exigências do Junts. Não posso aceitar aquilo que Pedro Sánchez aceitou”, disse Feijóo, que nas eleições legislativas antecipadas de Julho conseguiu a maioria dos votos, mas não foi capaz de juntar deputados suficientes para ser investido presidente do Governo.

O PP foi responsável pela organização de vários protestos um pouco por toda a Espanha nos dias que antecederam a investidura de Pedro Sánchez, criticando o acordo alcançado com os independentistas catalães, com quem o PSOE negociou a amnistia dos delitos na Catalunha durante o processo que culminou na declaração unilateral de independência da região em 2017​. “Isto é um erro”, disse Alberto Núñez Feijóo a Sánchez, no final da investidura do socialista como primeiro-ministro.

Puidgmont, ainda segundo o Politico, respondeu também às críticas levantadas pelas referências ao “lawfare”— a utilização dos sistemas e instituições jurídicos para prejudicar ou deslegitimar os opositores — inscritas no acordo de Governo entre o PSOE e o Junts e defendeu que se trata de um aviso aos juízes e aos políticos: “O termo ‘lawfare’ é como a cabeça do cavalo no filme O Padrinho; um aviso de que estamos a falar a sério.”

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