OCDE baixa previsão de crescimento português para 1,2% em 2024

Cenário de abrandamento mais forte da economia que apenas se começará a inverter em 2025, segundo as previsões da OCDE.

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Abrandamento na Europa pode afectar turismo em Portugal Manuel Roberto
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Um abrandamento mais acentuado do que o esperado no resto da Europa e a redução da confiança das famílias e empresas fez com que a OCDE se tornasse mais pessimista em relação à evolução da economia portuguesa no próximo ano.

No relatório publicado nesta quarta-feira em que apresenta as suas novas projecções para a economia mundial, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) traça um cenário de abrandamento global, em que a economia europeia se destaca pela fragilidade do seu desempenho. E, nesta conjuntura, apesar de continuar a crescer mais do que a média da zona euro, Portugal ressente-se.

Os responsáveis da OCDE, que desde Junho projectavam para Portugal um crescimento de 2,5% este ano e de 1,5% no próximo, passaram agora a prever que a economia nacional cresça 2,2% em 2023 e 1,2% em 2024. Um cenário de abrandamento mais forte da economia que apenas se começará a inverter em 2025, ano para o qual a expectativa da OCDE é de um crescimento de 2% em Portugal.

A OCDE passou assim a estar mais pessimista que o Governo, que, na proposta de Orçamento do Estado que será nesta quarta-feira aprovada no Parlamento, aponta para um crescimento da economia portuguesa no próximo ano de 1,5%. Na semana passada, a Comissão Europeia também reviu em baixa a sua projecção para Portugal, passando a apontar para uma variação do PIB em 2024 de 1,3%.

No relatório, a organização com sede em Paris assinala o facto de o PIB português ter “estagnado no segundo e terceiro trimestres deste ano”, devido essencialmente aos “efeitos da inflação, das condições financeiras mais apertadas e do crescimento fraco dos principais parceiros comerciais de Portugal”. E antecipa que aquilo que irá acontecer nos próximos meses não será muito diferente.

“A baixa confiança empresarial e das famílias, o crescimento global modesto e a elevada incerteza estão a travar a actividade”, afirma o relatório, que defende que estes factores negativos não serão totalmente compensados pelos efeitos mais positivos provenientes de um mercado de trabalho com baixo desemprego —​ que pode “apoiar o crescimento dos salários e o consumo privado” —​ e da implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que pode “dinamizar o investimento”.

A conjuntura internacional é o principal factor a trazer a economia portuguesa para ritmos mais baixos de crescimento. Nas previsões apresentadas nesta quarta-feira, a OCDE voltou a rever em baixa, como já o tinha feito em Setembro, a sua perspectiva de crescimento para a zona euro no próximo ano. Em vez de uma variação do PIB de 1,1%, a expectativa agora é de um crescimento de apenas 0,9%. A Alemanha, com um crescimento previsto de 0,6% em 2024, depois de uma contracção de 0,1% este ano, destaca-se pela negativa.

A OCDE deixa algumas notas de optimismo em relação à capacidade da economia portuguesa para regressar, a seguir ao próximo ano, a taxas de crescimento mais positivas. A previsão de crescimento de 2% para 2025 (novamente acima da média da zona euro que se projecta seja de 1,5%) é explicada essencialmente pelo efeito positivo esperado dos investimentos realizados no âmbito do PRR, para além do estímulo decorrente de uma política orçamental que, depois do excedente de 0,8% este ano, se espera, com um saldo de 0,2% tanto em 2024 como em 2025, ser mais expansionista, nomeadamente por via de um corte dos impostos sobre o rendimento.

A OCDE prevê ainda para Portugal que a taxa de inflação baixe de 5,5% este ano para 3,3% em 2024 e 2,4% em 2025, que o desemprego se mantenha estável, passando de 6,5% este ano para 6,3% nos dois anos seguintes e que a dívida pública em percentagem do PIB mantenha a sua trajectória descendente, ficando abaixo dos 100% em 2025.

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