Farfetch cancela apresentação de resultados e perde metade do valor em bolsa

Há quatro trimestres consecutivos que a empresa de José Neves anuncia prejuízos. Jornal The Telegraph avança que Neves prepara a retirada da empresa da bolsa. A Farfetch não comenta.

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A Farfetch tem parte significativa da sua estrutura em Portugal, mas a sede é em Londres, no Reino Unido fvl fernando veludo n/factos
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As acções da Farfetch, a plataforma de moda de luxo online fundada pelo português José Neves, estiveram em queda acentuada na sessão da bolsa de Nova Iorque esta quarta-feira, em reacção à decisão da empresa de cancelar a mais recente apresentação de resultados trimestrais, marcada para esta terça-feira. A decisão motivou preocupação no mercado, com o jornal britânico The Telegraph a avançar que Neves está em conversas com investidores e banqueiros para retirar a empresa de bolsa. Há quatro trimestres consecutivos que a empresa anuncia prejuízos.

Nas últimas horas, as acções da Farfetch fecharam a perder 53,74% do seu valor, recuando para 0,97 dólares. Isto traduz-se numa perda de mais de 400 milhões de dólares em capitalização bolsista, avança o Negócios, com a empresa a valer, ao fecho da sessão em Nova Iorque, cerca de 342,52 milhões de dólares (à volta de 312,2 milhões de euros à taxa de câmbio actual), muito distante dos 23 mil milhões de dólares de capitalização bolsista que chegou a atingir no início de 2021, recorda, por seu turno, o Financial Times.

Contactada pelo PÚBLICO, um porta-voz da empresa afirmou que “a Farfetch não vai fazer comentários sobre a situação”.

Por ora, a única informação da Farfetch é o comunicado sobre o adiamento da apresentação de resultados que foi publicado ao final da noite de terça-feira. “A empresa espera fornecer uma actualização de mercado no devido tempo”, lê-se na breve nota. “Neste momento, não fornecerá quaisquer previsões ou orientações, e quaisquer previsões ou orientações anteriores não deverão ser consideradas confiáveis.”

As empresas que estão cotadas em bolsa, e que decidiram assim abrir o seu capital a investidores, são obrigadas a partilhar regularmente informações financeiras e comerciais com o público. Exemplos recentes de empresas que não cumpriram essa obrigação incluem a WeWork, uma plataforma de escritórios partilhados, e a FTX, uma plataforma de criptomoedas – ambas viriam a declarar falência.

Há meses que a situação financeira da Farfetch motiva preocupações. Em Agosto, o valor das acções caiu a pique, quando a empresa apresentou prejuízos pelo quarto trimestre consecutivo.

A Farfetch, com sede em Londres, no Reino Unido, nasceu em 2008 para ajudar pessoas a comprar produtos de marcas de luxo, desde malas da Gucci a louça de Bordalo Pinheiro, num único site online. A empresa, que teve um arranque de sucesso, foi o primeiro unicórnio português (startups avaliadas em mais de mil milhões de dólares) e estreou-se em Wall Street a 21 de Setembro de 2018, ao preço unitário de 28,45 dólares. Em cinco anos, porém, o valor unitário das acções caiu mais de 96% e a empresa apenas teve dois anos de lucros: 2020 e 2021. Um dos factores foi a pandemia que acelerou o comércio electrónico nos países em confinamento.

O jornal britânico The Telegraph avançou entretanto que José Neves está a trabalhar com consultores do banco de investimento JP Morgan para tirar a empresa de bolsa; conta com o apoio de empresas parceiras como a gigante chinês de comércio electrónico Alibaba e o conglomerado suíço de luxo Richemont (dono do site de moda online Yoox Net-a-Porter). Ambas as plataformas investiram mais de 300 milhões de dólares (cerca de 273 milhões de euros) na Farfetch em Novembro de 2020, aquando o lançamento da Farfetch China.

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