O empate do Benfica teve um intenso sabor a nada

Para continuar a definir-se como equipa europeia, o Benfica precisa, na última jornada da Champions, de superação na Áustria – uma vitória curta com o Salzburgo não chega para ir à Liga Europa.

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Benfica e Inter em duelo na Luz Reuters/PEDRO NUNES
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Houve 3-0 e acabou 3-3. Esta quarta-feira europeia do Benfica foi muito semelhante às anteriores: uma desilusão. E só não foi igual às outras porque o Benfica, que até aqui acabou os jogos a zeros, terminou, desta vez, com um ponto.

É bom? Poderia ser, se o Salzburgo tivesse perdido. Como não perdeu, o futuro do Benfica na Liga Europa depende de um triunfo na Áustria por, pelo menos, dois golos.

E se este desfecho já seria mau em qualquer situação, será mais ainda pelo que se passou em campo. Os “encarnados”, que saíram sob assobios, tiveram três golos de vantagem e auto-sabotaram-se após o intervalo.

Houve falha defensiva individual no primeiro golo sofrido, falha defensiva colectiva e individual no segundo e novo erro colectivo e individual no terceiro, num lance de penálti de Otamendi depois de um comportamento global confrangedor no momento da perda da bola.

O Benfica tinha na mão um triunfo que permitiria ir “apenas” a Salzburgo vencer para chegar à Liga Europa, mas, com este desfecho, precisa de bastante mais do que isso. E poderia já nem ter nada, não fosse Trubin e a fortuna das bolas nos ferros. Por tudo isto, o empate sabe a nada.

Tengstedt e João Mário

Na Luz, este jogo entre Benfica e Inter teve contornos curiosos. Um 3-0 ao intervalo sugere que a equipa em vantagem foi claramente superior ao adversário, mas até nem foi bem isso que aconteceu. O resultado sugere também domínio territorial e oportunidades de golo umas atrás das outras, mas também não foi disso que se tratou.

Como chegou então o Benfica a este resultado? Com um perfil futebolístico muito sagaz, já que os “encarnados” perceberam cedo onde estava o “ouro”: estava em Bisseck, um dos jogadores novos num “onze” de segundas linhas – o Inter já estava apurado.

Só Roger Schmidt saberá dizer se explorar o jovem central alemão foi propositado ou não. E se não foi, pareceu. Se foi, fez bem.

O Benfica explorou até à exaustão os movimentos de atracção ao corredor direito. A ideia era chamar os italianos à ala, arrastar pelo menos um dos centrais e esperar que uma linha defensiva totalmente nova tivesse, nessa medida, buracos causados pela falta de rotinas.

O central pela direita, Bisseck, teve comportamentos iguais nos três golos do Benfica, também eles criados em situações semelhantes.

Aos 6’, o Benfica atraiu o Inter à direita, provocando um dois contra dois na área. Uma bola longa deu assistência de Tengstedt para João Mário finalizar no centro da área, com Bisseck atraído mais pela bola do que pelo controlo do espaço.

Aos 12’, uma recuperação em zona ofensiva (novamente Tengstedt) levou o central Bisseck a repetir o foco na bola e deixou João Mário novamente livre para finalizar nas suas costas – local de onde tinha saído Darmian, por o Inter estar em início de processo ofensivo.

Aos 34’, novamente pela direita, Tengstedt repetiu o cruzamento e João Mário a finalização na zona central da área. Também repetido foi o comportamento de Bisseck, novamente a largar os adversários para se focar na bola.

Benfica ruiu

O Inter reduziu aos 51’, após um canto desviado por Bisseck e finalizado por Arnautovic, e aproximou-se mais ainda aos 58’, num lance de novo mau comportamento dos defesas – desta vez do Benfica, com Otamendi, a contas com dois adversários (Morato não fechou) a atacar a bola e deixar Frattesi livre para uma grande finalização à meia-volta.

O Inter regressou do intervalo mais ligado ao jogo, mas não necessariamente com mudanças profundas no seu jogo que tenham espoletado estes golos. Com uma excepção: a maior predisposição de Frattesi para surgir em zonas de finalização – algo que o italiano faz bastante bem, como Barella, mas que não fez na primeira parte.

O Benfica esteve perto do 4-2 aos 65’, numa transição criada por Rafa e mal definida por Tengstedt, e acabou por sofrer o 3-3 pouco depois, num penálti de Otamendi sobre Thuram a ser convertido por Alexis.

E o lance começou num momento em que, a vencer por 3-2, o Benfica conseguiu ser apanhado com apenas três jogadores preparados para o processo defensivo – algo difícil de explicar a este nível, tal como a inércia de Schmidt, que não mexia numa equipa a afundar-se.

O jogo estava bom, com uma equipa já apurada – e, por isso, livre e descomplexada – e outra desesperadamente à procura de um triunfo. Havia transições, espaço e possibilidade de 4-3 para um lado ou outro.

Até que António Silva foi expulso por falta grosseira e o Benfica teve de remeter-se à defesa e tentar ainda manter qualquer coisa para a última jornada – um golo sofrido acabaria com qualquer possibilidade.

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