Cooperação entre robôs: ficção ou realidade?

Os robôs podem ajudar-nos a completar tarefas complicadas ou impossíveis para seres humanos. Algumas podem até ser complicadas para um único robô. E porque não usar uma equipa de robôs?

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Drone inspecciona uma quinta de painéis solares, enquanto um robô terrestre inspecciona os painéis de forma mais próxima no solo DR
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A robótica já não é algo da ficção e de Hollywood, mas uma realidade fundamental no nosso quotidiano. Os robôs já não existem apenas em filmes como o Eu, robô, WALL-E ou Chappie, mas nas nossas fábricas, casas e trabalhos. Talvez ainda não tão avançados como nestes filmes, principalmente quando falamos na colaboração entre robôs para completar tarefas mais complexas. A nossa investigação assenta precisamente neste tema de colaboração entre robôs com diferentes características para completar tarefas complexas e árduas para humanos.

Pensando no filme WALL-E, se os restantes robôs não se tivessem avariado, a limpeza do planeta Terra ficaria a cabo de um conjunto de robôs: os pequenos WALL-E recolhiam o lixo e compactavam-no, enquanto robôs maiores (onde o WALL-E dormia) estavam encarregues de os armazenar e transportar. É um bom exemplo de um grupo de robôs diferenciados, que têm características distintas adequadas para completar diferentes tarefas.

Hoje em dia a robótica é muito usada na indústria, e está cada vez mais presente no nosso dia-a-dia em robôs que aspiram ou cozinham. Outros cenários onde a robótica se pode destacar num futuro próximo e que beneficia de diferentes robôs autónomos a trabalhar em conjunto são, por exemplo, inspeção de infraestruturas em grandes áreas inóspitas, busca e salvamento em catástrofes ou monitorização e auxílio no combate a incêndios.

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O investigador Rui Bettencourt no Instituto de Sistemas e Robótica, no Instituto Superior Técnico DR

A presente investigação tenta (através de técnicas de otimização) definir as tarefas e/ou sequência de movimentos que os diferentes grupos de robôs devem completar para as executar da melhor forma possível.

O exemplo explorado até agora tem sido a inspeção de parques solares para monitorização dos painéis e deteção de avarias/sujidades nesses parques. Estas avarias e sujidades podem comprometer a produção de energia e reduzir a capacidade de fornecimento à rede, causando desequilíbrios na rede elétrica e potencialmente um maior consumo de combustíveis fósseis.

No projeto europeu DURABLE, foi criado um grupo de robôs terrestres e aéreos que colaboram na inspeção dos muitos painéis solares. Os drones têm como missão inspecionar rapidamente uma grande área e reportar aos robôs terrestres possíveis problemas. Estes, trabalhando em conjunto com os drones, conseguem inspecionar de forma mais próxima e detalhada e completar o diagnóstico. Os robôs terrestres também devem manter a proximidade aos drones para servirem como base de carregamento móvel para estes carregarem quando necessitam, pois têm baterias de menor capacidade.

Este projeto foi apresentado num parque solar real, com parceiros de diferentes institutos de investigação e apresentou resultados promissores. O objetivo da minha tese é continuar este trabalho, estudando a forma como os robôs colaboram ao completar tarefas em conjunto, de forma a otimizar os resultados e tornar os robôs mais úteis no nosso dia a dia. Quem sabe robôs como o WALL-E, que nos ajudam a melhorar as condições do nosso planeta, possam ser uma ainda maior realidade.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Aluno de doutoramento no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa e investigador no Instituto de Sistemas e Robótica (ISR)

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