Marcelo “apaga-se” na crise política e espera para ver “como o povo vota”

Presidente da República rejeitou comentar acusações de António Costa ou as sondagens, argumentando que este é o tempo dos partidos. E saúda inquérito no caso das gémeas.

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Presidente da República elogiou Paulo Rangel na apresentação do livro LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
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Depois de semanas de silêncio (raro), o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, rejeitou comentar os desenvolvimentos da crise política – nomeadamente as acusações do primeiro-ministro demissionário dirigidas a si – argumentando que agora “é o tempo dos partidos e dos líderes partidários”. Segue-se o “tempo do povo” e só depois virá o tempo do Presidente. “Neste tempo, o Presidente apaga-se”, disse aos jornalistas no final da apresentação de um livro de Paulo Rangel, vice-presidente do PSD.

Perante uma sala cheia de sociais-democratas – onde não faltaram dois ex-líderes, Pedro Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite -, Marcelo Rebelo de Sousa escolheu falar sobre o conteúdo do livro, Elementos de Política Constitucional, e elogiar o autor. Só no final o Presidente aceitou ser questionado pelos jornalistas sobre a crise política, mas para não comentar a actualidade. Às perguntas sobre se o PSD já é alternativa, se está preocupado com as sondagens, sobre se todos os partidos são elegíveis para coligações e sobre a acusação de António Costa de que provocou uma crise “irresponsável”, Marcelo respondeu quase sempre da mesma forma: “Não tenho nada a dizer”.

“Com a marcação do calendário pré-eleitoral, entrou-se num novo tempo, que tem três tempos: partidos, líderes (eleições, congressos); há o segundo tempo que é o povo e há um tempo que é do Presidente", disse, sugerindo que antecipa dificuldades na formação de Governo após as eleições: nessa fase, o Presidente "vai procurar a fórmula que, no quadro definido pelo povo, seja a mais próxima da sua leitura​". Marcelo espera para ver "como é que o povo lê o que se passou nestes três meses e como é que vota".

Relativamente à ida da procuradora-geral da República, Lucília Gago, a Belém, no dia em que Costa pediu a demissão, ou se tem intenção de divulgar a acta do Conselho de Estado de 9 de Novembro, ou ainda se autorizou o conselheiro de Estado António Lobo Xavier a falar sobre essa reunião, o Presidente não quis esclarecer: “Não tenho nada a dizer. Estamos noutro tempo”.

Sobre o dia em que formalizará por decreto a demissão do Governo, Marcelo não foi preciso e repetiu que "será nos primeiros dias de Dezembro", tal como tinha afirmado na comunicação ao país a 9 de Novembro, quando anunciou a dissolução da Assembleia da República.

PR saúda inquérito no caso das gémeas

A mesma atitude reservada foi assumida relativamente ao caso do tratamento das gémeas luso-brasileiras, com uma excepção: o Presidente disse saudar a abertura de um inquérito pelo Ministério Público.

“Neste momento foi aberto, e bem, um inquérito contra desconhecidos - eu aliás tinha falado nisso, que era importante o esclarecimento nessa matéria, por iniciativa dos que trabalhavam na instituição em causa ou por auditoria interna, ou por qualquer outra investigação”, disse, rejeitando comentar a possibilidade de vir a indicar ao Parlamento que o autorize a prestar declarações às autoridades.

Também não quis revelar se teve alguma conversa com o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, sobre o tratamento no Hospital de Santa Maria.

Sobre se está tranquilo com o caso, Marcelo respondeu afirmativamente: “Eu já estava tranquilo, vou continuar tranquilo”.

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