Depósitos e empréstimos das famílias continuaram a “encolher” em Outubro

Subida de taxas de juro leva famílias a transferir depósitos à ordem para contas a prazo. Rácio de empréstimos sobre depósitos cai para 73%.

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Remuneração dos depósitos sobe, mas de forma mais lenta do que na maioria dos países da zona euro Ricardo Lopes
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A carteira de depósitos e de empréstimos voltou a cair em Outubro. No final do mês passado, o stock de depósitos de particulares nos bancos residentes totalizava 175,2 mil milhões de euros, mais 0,5 mil milhões de euros do que em Setembro, mas menos 3,7% relativamente ao mesmo mês do ano passado. No mesmo sentido, os empréstimos a particulares registaram um decréscimo, em termos anuais, de 0,4% pelo segundo mês consecutivo, essencialmente devido ao recuo dos empréstimos à habitação.

Nos depósitos, e de acordo com os dados divulgados esta terça-feira pelo Banco de Portugal (BdP), “continuou a verificar-se a tendência de substituição de depósitos à ordem por depósitos a prazo”. Os depósitos à ordem reduziram-se 2,4 mil milhões de euros, enquanto os depósitos a prazo (que incluem os depósitos com prazo acordado e os depósitos com pré-aviso) aumentaram 2,9 mil milhões de euros, um crescimento de 6,6%, relativamente a Outubro de 2022, a mais elevada desde Julho de 2012.

Esta substituição decorre da subida das taxas de juro dos depósitos a prazo, embora a um ritmo menor do que a média da zona euro. Em Setembro, a remuneração média dos novos depósitos subiu para 2,29%, abaixo da média da zona euro, que se situou em 3,08%.

Portugal foi, em Setembro, o quinto país a remunerar pior os depósitos, quando há um largo número de países a remunerar estas aplicações em mais de 3,5%. Para acelerar a progressão de juros, na semana passada, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, fez um “apelo a uma actuação mais efectiva” por parte dos clientes, considerando que “as ofertas existentes no mercado permitiriam antecipar uma subida mais rápida das taxas de juro dos novos depósitos do que a que se verifica”.

Com a diminuição dos depósitos, e apesar da diminuição dos empréstimos, o rácio de empréstimos sobre depósitos de particulares caiu para 73%, a aproximar do mínimo atingido em Julho de 2022, nos 70%, e tendo-se mantido abaixo dos 100% desde Junho de 2013. O rácio de 73% significa, destaca o supervisor, que “por cada 100 euros de depósitos de particulares, os bancos concederam 73 euros de empréstimos a particulares”.

Uma análise com os 20 países da moeda única europeia mostra que Portugal se situou um ponto percentual abaixo da média da área do euro, o que representou o oitavo valor mais alto, com apenas quatro países – Finlândia, Eslováquia, Países Baixos e Estónia – a apresentarem um rácio acima dos 100%.

Empréstimos à habitação caem 1%

Na vertente do crédito aos particulares, o montante em carteira caiu 0,4% na variação anual, o que acontece pelo segundo mês consecutivo.

O grosso desse crédito, aquele que é destinado à habitação, totalizava 99 mil milhões de euros, menos 200 milhões do que em Setembro, e menos 1% relativamente a Outubro de 2022. “Este decréscimo reflecte, por um lado, o aumento das amortizações antecipadas e, por outro, o abrandamento na procura de crédito à habitação”, avança o BdP.

O abrandamento da carteira é explicado, em grande medida, pela forte subida das taxas Euribor, que se encontram em máximos desde finais de 2008.

Já os empréstimos ao consumo continuaram a aumentar. O stock deste crédito atingiu 21,1 mil milhões de euros, mais 0,1 mil milhões do que em Setembro e mais 3,5% em relação a Outubro de 2022 (3,1% em Setembro).

Nas empresas, os depósitos aumentaram 0,5%, ou mais 800 milhões de euros do que em Setembro, para 65,3 mil milhões de euros.

Em sentido inverso, o total de empréstimos diminuiu em 800 milhões de euros, para 72,5 mil milhões de euros no final de Outubro de 2023, em cadeia. Relativamente a Outubro de 2022, o montante de empréstimos diminuiu 3,3% (menos 2,8% em Setembro), apresentando uma taxa de variação anual negativa pelo décimo mês consecutivo.

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