Maioria aceita entrada de “alguns” imigrantes em Portugal, diz inquérito europeu

Relatório europeu mostra tendência de “abertura à imigração” entre os portugueses. A democracia, porém, surge mal avaliada, sobretudo por causa das desigualdades de rendimentos e perante a lei.

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Os portugueses mostram-se um pouco mais tolerantes em relação à entrada de imigrantes no país Rui Gaudêncio (arquivo)
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A maioria dos portugueses aceita a entrada de “alguns” imigrantes no país, mostram os resultados do último European Social Survey (ESS). Esta é uma tendência acentuada nos últimos anos, em que, apesar de tudo, se nota uma abertura em relação à imigração, tanto em Portugal como nos outros países, revela o boletim daquele grande inquérito europeu, que será apresentado esta terça-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Em 2022, o grosso dos respondentes portugueses — cerca de 60% — aceitava a entrada de “alguns” imigrantes. Por outro lado, os que não aceitavam “nenhuns” baixou de 23%, em 2002, para 5,7%, em 2022. Em Portugal, responderam 1838 pessoas ao inquérito do ESS neste último round, que teve um total de 59.685 participantes.

A escala usada para medir tem quatro pontos e as perguntas sobre abertura à imigração têm como hipótese a entrada de nenhuns imigrantes, poucos, alguns ou muitos. Se em 2002 os resultados em Portugal mostravam que a maioria tinha respondido ligeiramente acima de poucos, agora em 2022 esse número subiu para quase alguns. Só a Noruega e Espanha aprovam a entrada de imigrantes acima de alguns.

De acordo com a coordenadora nacional do ESS em Portugal, a socióloga Alice Ramos, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, os dados de 2022 reforçam a tendência de Portugal como país que se vai abrindo à imigração e que também tende a ver menos os imigrantes como ameaça à economia e ameaça cultural — aqui vista como pessoas que, com os seus hábitos, tradições e valores, “podem prejudicar a cultura nacional. “O que é interessante é que na ameaça cultural e económica estamos no ponto médio da escala e já das opiniões favoráveis”, acrescenta ao PÚBLICO.

Analisando os dados sobre racismo — que foram incluídos no inquérito de 2018/2019 mas ainda não neste, e que referem que 62% dos inquiridos manifestavam crenças racistas —, esta abertura à imigração parece ser uma contradição. Alice Ramos avança uma explicação: “Não é totalmente contradição porque as pessoas que mais se opõem à imigração são as mesmas que manifestam crenças racistas de acordo com dados de 2014."

Os resultados mostram ainda que quanto maior é o Índice de Desenvolvimento Humano dos países, maior é a abertura à imigração — o mesmo se passa com o Produto Interno Bruto. “Outros estudos realizados na Europa mostraram já que o aumento do fluxo de imigrantes não tem impacto significativo nas atitudes perante a imigração”, refere o boletim.

Nos últimos 2o anos, também desceu o número dos que acreditam no impacto negativo dos imigrantes na economia — e isto na maioria dos países, incluindo Portugal. As excepções a esta tendência são a Suécia, Itália e Hungria. O boletim ressalva, porém, que, apesar desta descida em quase “metade dos países, a média das opiniões está acima do ponto médio da escala, ou seja, do lado das opiniões menos favoráveis”. Relativamente ao impacto cultural da presença de imigrantes, Portugal aparece novamente entre os países com maior abertura (ao lado do Reino Unido, da Irlanda, da Bélgica, da Noruega e da Espanha).

Igualdade perante a lei mal avaliada

O ESS também avalia a democracia e, neste aspecto, Portugal aparece com desempenho “especialmente abaixo do que seria desejável” na igualdade perante a lei nos tribunais e na redução da desigualdade de rendimentos e da protecção contra a pobreza.

Neste capítulo, avaliando os resultados da última década, os autores do boletim sublinham que “quase nada mudou” e que “as únicas diferenças relevantes se detectam na protecção dos direitos das minorias — onde o défice diminuiu — e no tratamento de todos por igual pelos tribunais e na responsabilização eleitoral dos governos — onde, do ponto de vista dos cidadãos, os défices democráticos de Portugal se acentuaram”.

Os portugueses inquiridos sublinharam maiores défices no funcionamento do sistema democrático do que a média dos europeus.

Dos dados apurados, ressalta ainda a baixa confiança interpessoal entre a população, onde Portugal tem valores abaixo da média europeia. A polícia é a instituição em que os portugueses mais confiam (e nos outros países também), em linha com os dados de outros relatórios: a polícia foi a única instituição nacional com aumento significativo em 20 anos (de cinco para mais de seis pontos em dez); mas o sistema judicial desceu, estando agora nos quatro pontos.

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