O hóquei no gelo é uma segunda carreira para Petr Cech

O hobby do antigo guarda-redes checo tornou-se um pouco mais sério depois de chegar a um candidato ao título no principal campeonato do Reino Unido.

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Petr Cech: uma vez guarda-redes, sempre guarda-redes Reuters/MATTHEW CHILDS
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Durante quase 20 anos, Petr Cech foi um dos melhores guarda-redes do futebol mundial, revelado no Chmel Blsany e no Sparta de Praga, maturado no Rennes por Lazslo Bölöni e uma “estrela” internacional nos seus tempos de Chelsea e Arsenal, antes de se retirar em 2019. Nos quatro anos que se seguiram, percebeu-se que o futebol não é a única paixão desportiva do gigante checo e nem sequer foi a primeira. Cech está a cumprir o seu sonho de infância nas balizas do hóquei no gelo e, desde a semana passada, numa equipa que é candidata ao título no principal campeonato do Reino Unido.

Depois de quatro anos a jogar em Ligas secundárias, Cech, de 41 anos, foi contratado de urgência pelos Belfast Giants, o actual campeão da principal Liga do Reino Unido, como guarda-redes suplente. E, não sendo expectável que chegue a ser titular, vai ser o segundo na hierarquia nos próximos tempos - e até já teve direito a cinco minutos no gelo a guardar a baliza dos Giants frente aos Glasgow Clan. O jogo já estava ganho (5-1), mas Cech cumpriu um sonho de criança, o de ser profissional de hóquei no gelo. E fez uma defesa.

"É um momento especial. É certo que não queremos entrar em determinadas circunstâncias, depois de termos estado tanto tempo no banco, não é a situação ideal, mas é para isso que cá estou. Para estar preparado em qualquer altura, se precisarem de mim. Eu entrei nos últimos minutos e a minha experiência em grandes jogos ajudou a que não me sentisse nervoso. Treinei-me duas semanas com a equipa e senti que podia entrar e fazer o meu papel", resumiu o checo, no final do encontro.

Muito antes de ser um “monstro” nas balizas do futebol mundial, Cech tinha o sonho de guardar balizas de hóquei no gelo, um dos desportos nacionais da República Checa – 12 vezes campeã do mundo, seis das quais como integrante da antiga Checoslováquia. “Eu sempre quis jogar hóquei, mas a realidade é que, na altura, não tínhamos dinheiro para o equipamento. O meu pai levou-me para o futebol porque sabia que só precisava de um par de botas. Depois, comecei a ir à baliza e também precisava de um par de luvas”, contou Cech numa entrevista recente ao Belfast Telegraph.

Já depois de encerrar a carreira em 2019, depois de quase 20 anos em que foi quatro vezes campeão inglês, vencedor de uma Champions e em que somou 124 internacionalizações pela selecção checa, o guardião continuou a praticar desporto para manter a forma. Começou numa equipa amadora, que competia na quarta divisão (Guidford Phoenix), e, logo na partida de estreia, foi eleito o melhor em campo, ao defender dois penáltis no desempate. Em 2022, transferiu-se para uma equipa da segunda divisão (Chelmsford Chieftains), antes de voltar a mudar para outra equipa do mesmo escalão (Oxford City Stars) em 2023.

Há poucos dias, foi chamado de emergência para a capital da Irlanda do Norte, onde já tinha jogado numa partida de beneficência em favor das vítimas da guerra da Ucrânia. “Já tinha trocado umas mensagens com o treinador [Adam Keefe] a desejar-lhe boa sorte para a época e ele disse-me que os guarda-redes dele se estavam a desfazer, e talvez eu pudesse ajudar”, revelou o checo ao Telegraph. A transferência foi anunciada a 15 de Novembro e, dez dias depois, Cech estava a entrar no rinque, com o n.º 39 nas costas, aplaudido por mais de seis mil espectadores.

Claro que ser guarda-redes de hóquei no gelo é diferente de ser guarda-redes de futebol – o tamanho das balizas é apenas uma das diferenças. Mas, aponta Cech, também há semelhanças. “Os aspectos técnicos são obviamente diferentes, mas há coisas parecidas, a forma como abordamos os lances, fechar os ângulos…”, assinala o checo.

Petr Cech não é o primeiro guarda-redes de futebol a testar-se no hóquei no gelo. Lev Yashin, que é considerado um dos melhores de sempre, também passou pela modalidade, mas, no caso do “Aranha Negra”, foi em início de carreira. Quando ainda aguardava por uma oportunidade na baliza do Dínamo de Moscovo, Yashin dividiu o seu tempo, durante três épocas, com o hóquei no gelo e, não sendo ele o titular indiscutível, foi ele que esteve na baliza do Dínamo numa final da Taça da União Soviética, em 1953. Dizia-se que estava a caminho de um lugar na selecção no próximo Mundial e Yashin teve de escolher. Escolheu o futebol.

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