Guerra e campanha eleitoral levam Joe Biden a faltar à Cimeira do Clima, no Dubai

O enviado especial para o Clima, John Kerry, vai liderar a representação norte-americana à COP28. No ano passado, Biden esteve apenas três horas na cimeira.

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A Casa Branca confirmou que o Joe Biden não vai estar presente na Cimeira do Clima que começa esta quinta-feira no Dubai Reuters/TOM BRENNER
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O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não participará na reunião de líderes mundiais focada nas mudanças climáticas que começa no Dubai esta semana, a COP28, disse fonte oficial norte-americana à agência Reuters. Não foi avançado um motivo, mas o New York Times avança que a atenção do Presidente tem sido consumida pela guerra entre o Israel e o Hamas nas últimas semanas e dias, sobretudo agora que há uma enorme pressão diplomática para obter pausas nos combates e a libertação de reféns pelo Hamas.

Não é propriamente uma surpresa. No mês passado, a Reuters já noticiava que era improvável que Biden estivesse na Conferência do Clima das Nações Unidas deste ano (COP28), que arranca na quinta-feira. Além da guerra no Médio Oriente, há a guerra na Ucrânia, e as exigências da campanha para as eleições presidenciais do próximo ano, que deverá aquecer em Janeiro. Uma sondagem divulgada neste mês dava Biden atrás de Donald Trump em cinco estados fundamentais para a composição do colégio eleitoral.

O enviado especial para o Clima dos EUA, John Kerry, liderará a representação norte-americana na COP28. A presença do Presidente Biden não é essencial para haver acordo, salientou ao New York Times David Victor, analista do think tank Brookings Institution. “Não vejo por que é que seria necessário enviar um Presidente...”, afirmou.

Acordo com a China

De um encontro ainda este mês entre Joe Biden e o Presidente chinês, Xi Jinping, resultou um acordo com o objectivo de triplicar a capacidade de geração de energia renovável em termos globais até 2030. Esse crescimento deveria ser suficiente para “acelerar a substituição da geração de electricidade através de carvão, petróleo e gás natural”, diz o texto do acordo, antecipando “uma redução significativa das emissões [de gases com efeito de estufa] do sector eléctrico” durante esta década. A União Europeia apoia igualmente este objectivo.

Biden esteve presente nas duas últimas cimeiras do clima das Nações Unidas, na Escócia e no Egipto. Na COP27, em Sharm el Sheik, fez uma paragem de cerca de três horas, onde fez um discurso que afirmou os EUA como um líder da acção climática e promoveu a legislação climática norte-americana, que pretende canalizar 370 mil milhões de dólares em investimentos de energias renováveis durante a próxima década.

Um acordo de cooperação entre a China e os EUA para limitar as alterações climáticas, em 2014, quando o Presidente norte-americano era Barack Obama, foi decisivo para que no ano seguinte fosse assinado o Acordo de Paris.

Na agenda da COP28, no Dubai, estão ainda nomes como o Papa Francisco e o rei Carlos III do Reino Unido.

A agenda do Presidente para quinta-feira, divulgada pela Casa Branca, prevê um encontro bilateral com o Presidente da República de Angola, João Lourenço, e a presença na cerimónia de iluminação da Árvore Nacional, em Washington D.C.

Na reunião do Dubai, os países signatários do Acordo de Paris vão fazer o primeiro balanço da eficácia da sua aplicação face ao objectivo de limitar o aquecimento global a 1,5 graus acima dos valores pré-industriais. A partir desse ponto, as alterações climáticas tornar-se-ão realmente perigosas, estimam os cientistas.

Se mantivermos a trajectória actual em termos de emissões de gases com efeito de estufa, estaremos a limitar o aquecimento global a 2,9 graus Celsius até 2100 – ou seja, muito acima dos 1,5 graus Celsius preconizados pelo Acordo de Paris, diz um relatório divulgado pelo Programa Nações Unidas para o Ambiente já este mês.

Como pôr a funcionar um fundo de perdas e danos para apoiar as nações mais expostas aos riscos climáticos, quando sofrem catástrofes relacionadas com o clima, é outro dos pontos quentes da agenda. Tentar-se-á também de promover o primeiro acordo mundial para eliminar progressivamente o carvão, o petróleo e o gás, combustíveis fósseis que emitem dióxido de carbono (CO2), o principal gás com efeito de estufa.