Emirados Árabes Unidos planearam discutir negócios de gás na preparação da COP28

Equipa de Sultan Al Jaber terá ponderado usar reuniões preparatórias para a COP28 para fazer valer interesses das empresas estatais dos EAU em matéria de combustíveis fósseis.

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Sultan Al Jaber, presidente da COP28, que tem lugar de 30 de Novembro a 12 de Dezembro nos Emirados Árabes Unidos Reuters

Os Emirados Árabes Unidos, que acolhem a cimeira do clima da ONU, planearam aproveitar o seu papel de anfitriões para discutir possíveis negócios de gás natural e outros acordos comerciais antes da COP28, que começa esta semana, segundo uma investigação da BBC e do Centre for Climate Reporting (CCR).

A investigação cita documentos que foram divulgados e que teriam sido preparados pelo presidente da COP28, Sultan Al Jaber, para reuniões com pelo menos 27 governos, incluindo 15 países com os quais a ADNOC quer trabalhar para extrair combustíveis fósseis.

Os documentos incluem pontos de discussão para promover os interesses da gigante petrolífera estatal Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC) em gás natural liquefeito (GNL) ou petroquímica, bem como os interesses da empresa estatal de energias renováveis Masdar em energias renováveis e outras medidas de mitigação do clima.

Os EAU são um grande produtor de petróleo e um dos principais membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC). A cimeira sobre o clima será a primeira avaliação global dos progressos realizados desde o Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu o objectivo de limitar o aquecimento global a menos de 2 graus Celsius. Os cientistas do clima afirmam que a concretização desse objectivo depende da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

Reputação (ainda mais) afectada

Um porta-voz da COP28 disse à Reuters que os documentos eram "imprecisos". "Os documentos referidos no artigo da BBC são imprecisos e não foram utilizados pela COP28 nas reuniões", reagiu este responsável. "É extremamente decepcionante ver a BBC usar documentos não verificados nas suas reportagens", refere um comunicado em resposta a uma pergunta da Reuters sobre os documentos.

O CCR disse que trabalhou com a BBC para verificar a autenticidade dos documentos, que terão sido divulgados por um denunciante anónimo por medo de retaliação. Esta segunda-feira, foi publicada uma parte dos documentos - 46 de 150 páginas. Ao CCR, um porta-voz da COP28 respondeu apenas que "reuniões privadas são privadas e não comentamos sobre elas".

Os documentos foram também consultados pelo jornal britânico The Guardian. Em resposta ao Guardian, um porta-voz da COP28 adiantou que "os documentos referidos são imprecisos e não foram utilizados pelo COP28 nas reuniões", sem especificar as imprecisões. A ADNOC não respondeu a um pedido de comentário.

A nomeação de Sultan Al Jaber para liderar as negociações sobre o clima suscitou críticas desde o início, com receios de que o ministro dos EAU não seja capaz de assumir a posição neutra exigida a um presidente da COP. Al Jaber, que é também ministro da Indústria dos EAU, tem-se apresentado como um mediador, tentando incluir a indústria do petróleo e do gás no debate sobre o clima.

Quais eram os planos?

De acordo com os documentos divulgados, a ADNOC está "disposta a avaliar conjuntamente oportunidades internacionais de GNL" em Moçambique, no Canadá e na Austrália, mostra uma secção dos documentos, preparados para uma potencial reunião com Zhao Yingmin, vice-ministro chinês da Ecologia e Ambiente.

A ADNOC também está a procurar a ajuda do Brasil para garantir a aprovação de uma oferta não vinculativa que fez com a empresa de capital privado Apollo para uma participação de controlo na produtora petroquímica Braksem. "Garantir o alinhamento e a aprovação do negócio ao mais alto nível é importante para nós", diz o documento numa página preparada para uma potencial discussão com a Ministra do Ambiente do Brasil, Marina Silva. "Existem muitas sinergias entre os Emirados Árabes Unidos e o Brasil - com ambos os países a procurarem explorar os seus recursos de hidrocarbonetos de forma responsável", lia-se em outra secção.

Foram também preparadas discussões para promover interesses em GNL em França, Alemanha, Quénia, México e Venezuela, bem como em produtos petroquímicos em países como o Egipto e o Azerbaijão, segundo os documentos publicados.

Os EAU também procuraram investimentos ou cooperação em matéria de energias renováveis ou outras acções de mitigação das alterações climáticas, incluindo a redução do metano, com vários países, incluindo o Reino Unido, a China, a Arábia Saudita e os Estados Unidos.

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