Em muitas actividades, incluindo estudar, trabalhar ou até procurar emprego, as pessoas precisam de fazer pausas regulares para recarregar os níveis de energia.
Além da experiência prática, esta necessidade biológica está bem documentada por um grande conjunto de estudos. Inúmeros estudos concordam com os benefícios para o bem-estar dos funcionários do tempo de recuperação no trabalho (por exemplo, fazer pausas durante o dia), fora do horário de trabalho (por exemplo, exercício físico), desligar-se do trabalho durante o tempo livre e, claro, actividades sociais (por exemplo, tempo passado com pessoas de quem gostas).
Fazer pausas regulares pode ter um efeito regenerador não apenas no contexto profissional, mas também para outras tarefas importantes na vida. Uma dessas actividades é procurar emprego, algo que todos nós teremos de enfrentar pelo menos algumas vezes ao longo das nossas vidas.
A importância do desapego
A procura de emprego pode ser desgastante, até porque pode envolver rejeição, momentos de stress como entrevistas, bastante esforço e resistência para alcançar o objectivo. Por outras palavras, é um processo que leva tempo e consome uma quantidade significativa de energia mental e física.
Foram realizados estudos em diferentes áreas para descobrir como as reservas de energia das pessoas ficam esgotadas no decorrer de actividades específicas — e como, e se podem ser recuperadas. O gasto e a recuperação de energia no processo de procura de emprego não são excepção.
Num estudo de 2022, eu e os meus co-autores percebemos que, quando os candidatos a um emprego conseguem desvincular-se psicologicamente da procura diária, sentem-se renovados, revigorados e acabam por se esforçar mais, conseguindo um maior número de entrevistas.
Outra forma de interpretar os resultados do nosso estudo é que é importante fazer pausas, distrair-se da procura e não estar constantemente a realizar tarefas relacionadas com a procura de emprego. Tal como em muitas outras actividades da vida, recuperar a energia é uma parte vital para alcançar o sucesso.
É por isso que reunimos dados adicionais para perceber que tipo de pausas os candidatos a emprego — neste caso, estudantes que estão à procura do seu primeiro emprego a tempo inteiro — estão a fazer. Essas pausas variam em duração, desde pausas curtas várias vezes ao dia, como enviar mensagens a amigos ou familiares, até pausas mais longas de 20 a 30 minutos para ver um episódio de uma série de TV.
Desporto e videojogos
Vimos que as pausas mais comuns incluem ver séries, filmes e vídeos online, jogar videojogos e dormir. Uma participante mencionou que, durante uma semana importante de procura de emprego, "experimentou cafés novos, viu filmes com amigos e passeou pela cidade nos dias mais agradáveis".
Outro participante indicou que tinha "passado tempo a aprender programação, pois planeia desenvolver uma app que tem em mente"; também disse que tinha "jogado muitos videojogos e ido ao ginásio".
No entanto, outro candidato a emprego afirmou que essas pausas só ocorreram depois de receber a primeira oferta de emprego:
"Fiquei tão entusiasmado por finalmente receber a primeira oferta que passei muito mais tempo do que o habitual a relaxar com amigos. Descansei mais do que o normal e senti-me mais aliviado do que nunca em relação a este processo. Ainda estou a fazer entrevistas com outras empresas, mas reservei um tempo para relaxar, ouvir música e pôr em dia alguns programas que perdi durante a procura de emprego e de outras obrigações."
Em geral, fazer pausas de diferentes formas pode ajudar a criar uma distância mental da procura de emprego, proporcionando ao corpo e à alma o tempo necessário para recarregar.
O papel do humor
Num estudo de 2016, explorei o papel do humor como forma de distracção do stress associado à procura de emprego. O riso é uma maneira de aliviar a tensão e pode ser um comportamento que ajuda a reduzir o stress.
Por exemplo, pessoas ansiosas em relação às suas candidaturas podem partilhar as suas más experiências de forma descontraída com outros candidatos ou com orientadores de carreira como aprendizagens, ao mesmo tempo que riem de si mesmas — ou seja, uma forma de distracção. Esta teoria é referida nos estudos sobre o humor no ambiente de trabalho conduzidos por Vanessa Marcié, nomeadamente o seu artigo de 2020 sobre o humor como mecanismo de enfrentamento durante uma crise.
Em resumo, tirar tempo para descansar ou desligar é vital para o sucesso. Neste caso, para que a procura de trabalho seja bem-sucedida. Independentemente do tipo de pausa que se escolha, ajudará a recuperar e encontrar nova energia. E isso tem um impacto directo na procura de emprego, tanto em termos de esforço investido quanto de resultados positivos.
É igualmente importante observar que as pausas podem variar em duração e tipo, mas todas ajudam, em última instância, a tirar momentaneamente a mente da tarefa em questão. Para algumas pessoas, isso acontecerá rindo da situação com amigos ou outros candidatos a emprego. Para outros, envolverá ver TV ou jogar videojogos.
Exclusivo P3/The Conversation
Serge da Motta Veiga é professor de Gestão de Recursos Humanos na Noema Business School