Primeiro veio o fogo, depois a água. Esta aldeia na Grécia perdeu a esperança
Sesklo, uma aldeia com cerca de 800 habitantes que alberga uma das mais antigas povoações pré-históricas da Europa, tem sobrevivido a catástrofes naturais ao longo dos séculos. Nunca como este ano.
Primeiro foram os incêndios. Depois as inundações. Na pequena aldeia de Sesklo, no centro da Grécia, Vasilis Tsiamitas, de 46 anos, sentiu na pele os extremos dos dois fenómenos meteorológicos que, neste Verão, fizeram da Grécia um ponto de referência das alterações climáticas.
A tempestade Elias inundou a sua casa, danificou o seu bar de praia e arrastou o seu carro em Setembro, terminando o que tinha sido deixado semanas antes pela tempestade Daniel, a mais intensa de que há registo na Grécia, e por um incêndio florestal em Julho que queimou o amendoal da sua família.
"Só Deus sabe como vou ultrapassar isto", disse Tsiamitas à porta da sua casa de dois andares. A porta da frente está fora das dobradiças, encostada a uma parede ao lado de tábuas de madeira encharcadas pelas águas das cheias. "Que mais me pode atingir? Não pode ficar pior", diz.
As fortes tempestades e inundações tornaram-se mais frequentes nos últimos anos, ao mesmo tempo que o aumento das temperaturas torna os Verões mais quentes e secos, criando condições propícias aos incêndios florestais.
As estradas enlameadas e os móveis de casa empilhados, para secar, nas ruas das aldeias da região central da Tessália são um lembrete constante das medidas que a Grécia tem de tomar para se adaptar às alterações climáticas e atenuar o impacto destes fenómenos meteorológicos.
Sesklo, uma aldeia com cerca de 800 habitantes perto da cidade portuária de Volos e que alberga uma das mais antigas povoações pré-históricas da Europa, tem sobrevivido a catástrofes naturais ao longo dos séculos. Mas os seus residentes mais velhos, diz Tsiamitas, nunca experimentaram nada como a devastação deste ano.
"É a primeira vez que a nossa aldeia é tão afectada", confirma Tsiamitas, que é também o líder da comunidade local. "Temos pessoas idosas sentadas na praça da aldeia, com 95 ou 90 anos de idade, que nunca passaram por uma situação destas".
Começar do zero
O incêndio que deflagrou em Julho esteve a arder sem controlo durante pelo menos dois dias. Os habitantes de Sesklo foram retirados da aldeia a tempo, mas as chamas, alimentadas por ventos fortes, arderam em terrenos agrícolas e pomares, destruindo cerca de 70% da produção de amêndoas e azeite da aldeia, contabiliza Tsiamitas. "As condições meteorológicas eram muito más, o vento, não havia humidade nesse dia, o fogo avançava rapidamente. Não havia tempo suficiente para fazer nada", recorda.
No início de Setembro, a tempestade Daniel atingiu a Tessália após a mais longa vaga de calor registada na Grécia em mais de 30 anos. Matou 16 pessoas e transformou a região num mar interior, destruindo casas e quintas e arrasando vastas áreas de cultivo.
Tsiamitas, cujo bar de praia foi inundado, nota que a maioria dos residentes de Sesklo não foi tão afectada pela tempestade como outras pessoas na região. Mas o seu sentimento de alívio foi de curta duração. Semanas depois, Elias, uma tempestade menos intensa mas inesperada, foi a gota de água.
Tsiamitas conta que tinha o filho mais novo nos braços quando uma torrente furiosa lhe abriu a porta da frente, obrigando-o a correr para cima, onde vivem os sogros. Desde então, a água baixou, revelando a devastação que aldeias como Sesklo sofreram.
"Devíamos aprender a lição", disse Tsiamitas, olhando para os cepos de amendoeiras queimadas. "Temos de as arrancar... temos de as plantar de novo. Uma e outra vez, temos de começar tudo do zero."