Desafios e inspirações na construção de um futuro sustentável

3ª Conferência do Insure.hub da Universidade Católica no Porto promoveu a partilha, o debate e a transferência de conhecimento entre Academia e indústria.

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A missão do Insure.Hub da Católica no Porto cruza-se com a missão da própria Universidade - quem o diz é Peter Hanenberg, vice-reitor da UCP. Na sessão de abertura da terceira conferência internacional dedicada à inovação, sustentabilidade e regeneração - as áreas-chave promovidas pela plataforma -, a ideia de incutir às universidades uma responsabilidade social ecoou como um apelo à convergência de conhecimento em prol de um futuro mais sustentável. Enfrentar os desafios da inovação através da capacidade de co-criação com parceiros de diferentes sectores é um dos caminhos nesse sentido e é precisamente o que o Insure.Hub tem trabalhado nos últimos anos. “Ainda temos caminho para fazer”, assumiu o vice-reitor, abrindo as hostes para dois dias dedicados à partilha de conhecimento entre estudantes, investigadores e profissionais da indústria. Entre a apresentação de trabalhos académicos e de casos práticos, o programa foi desenhado para que, efectivamente, a Universidade seja um meio que promove o pensamento e a discussão para que a transferência de conhecimento seja sustentada e sustentável.

A Inovação sustentável é um factor competitivo

O primeiro dia pautou-se pela apresentação de trabalhos de investigação de diferentes áreas científicas com potencial de desenvolvimento e viabilização comercial. A aplicação dos princípios da Economia Circular à área alimentar foi um dos temas comuns às várias intervenções das Ciências Naturais. Integrar desperdício agro-alimentar que não é possível ser reutilizado para fins alimentares foi outro dos pontos em destaque. O projecto BioShoes4All é um bom exemplo e acabou por ser premiado no final da conferência com o KPMG Best Paper Presentation Award - Natural Sciences.

O BioShoes4All visa inovações sustentáveis em cinco áreas-chave, incluindo biomateriais, calçado ecológico, economia circular e tecnologias de produção avançadas. Conta com a participação de um consórcio de cerca de 70 parceiros que colaboram no desenvolvimento de novos materiais bio e eco, com menor pegada ambiental. A procura por soluções para a regeneração de resíduos e para uma maior automação na indústria do calçado são algumas das principais frentes de trabalho, promovendo assim a sustentabilidade e a circularidade na cadeia produtiva. Numa indústria com um peso tão significativo para a economia do país como é a do calçado e cujas exportações tendem a aumentar, a possibilidade de trabalhar a inovação e testá-la torna-se um factor competitivo não só para as empresas directamente ligadas ao projecto, mas para todo o sector.

Mas projectos circulares e sustentáveis são só possíveis com o respectivo envelope de financiamento. Um trabalho de investigação realizado por uma equipa da Católica Porto Business School sobre empréstimos sustentáveis, comparando-os em termos de características e preço com soluções tradicionais, obteve o MDS Best Paper Presentation Award - Social Sciences.

O Green Deal e o modelo económico europeu foram discutidos numa sessão especial, na qual se destacou a necessidade de acção colectiva de empresas e cidadãos. Annette Bongardt, Francisco Torres e Jorge Portugal trocaram ideias mas, no final, foi consensual que a alma da Europa é ecológica ao ponto de ser inquestionável a progressão rumo à sustentabilidade.

Da mesa redonda sobre a colaboração entre universidades e o setor empresarial e social ressaltou a importância da interdisciplinaridade e do envolvimento das empresas e dos próprios municípios. Jenny Lao Phillips, directora da Faculdade de Negócios e Direito da University of Saint Joseph (Macau), Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto e Luís Silva, Partner da KPMG, participaram na conversa moderada pela directora da Escola Superior de Biotecnologia, Paula Castro. Trabalhar novas soluções e testar a sua aplicação em grande escala e em diferentes indústrias só é possível se houver partilha de conhecimento e capacidade de co-criação. E é imperativo agir agora, trabalhando em conjunto para enfrentar os desafios actuais e moldar um futuro mais promissor.

Autenticidade, responsabilidade corporativa e parcerias

A conferência internacional promovida pelo Insure.hub trouxe uma série de apresentações inspiradoras de empresas parceiras comprometidas com a sustentabilidade e com a inovação. Vasco Ganadeiro, da Bondalti, introduziu a visão "tomorrow matters" da empresa, com o hidrogénio verde e a descarbonização como pilares essenciais. A Ingenio Magdalena, da Guatemala, produz e comercializa produtos derivados da cana-de-açúcar e fá-lo com base na economia circular, embora, nas palavras do seu representante Jorge Leal, “queremos acrescentar valor aos produtos através de parcerias” em Portugal com a Católica e acredita estarem a “construir o que será o futuro”.

A reacção da plateia quando o entusiasta Diogo Figueira mostrou as marcas que a Casa Mendes Gonçalves comercializa é capaz de ser comum a muita gente: Paladin, por exemplo, diz-lhe alguma coisa? Uma empresa familiar com forte ligação à comunidade e parcerias com grandes empresas como a Unilever e o McDonald’s. Mas não é (só) nisso que se destaca: projectos de agricultura regenerativa e uma constante aposta na inovação são dois agentes transformadores a juntar à promoção de “parcerias sólidas” para perpetuar o ciclo sustentável.

No segundo painel dedicado à apresentação de projectos vanguardistas e inspiradores, Pedro Baganha, da Domus Social Porto, Alexandra Magalhães, da Sarcol e Vitor Hugo Gonçalves, da Águas de Monchique falaram respectivamente da importância de ter um propósito, de exemplos de resiliência no sector imobiliário e da importância da responsabilidade corporativa, das parcerias e da autenticidade. A discussão subsequente foi moderada por Luís Rochartre, da Planetiers.

“A Inteligência Artificial é uma jornada”

Ninguém melhor do que Manuela Veloso, ‘supra-sumo’ da Inteligência Artificial (IA), para falar sobre os desafios e oportunidades da IA aplicada à sustentabilidade. A head of AI Research da J.P. Morgan e professora na Carnegie Mellon University tem um vasto e premiado currículo na área e tem também o dom de partilhar a sua experiência de uma forma muito clara.

Ao longo da sua intervenção, a keynote speaker deu várias pistas sobre como compreender melhor as máquinas, a sua evolução e utilidade. E, acima de tudo, que por muito autónomas que sejam, há funções humanas que nunca poderão executar na perfeição, enfatizando a distinção dos humanos pela percepção, cognição e acção como agentes no ambiente. A automação, impulsionada pela IA, tem sido explorada em diversas áreas, mas Manuela Azevedo optou por dar ênfase à capacidade de a IA extrair informações de diversas fontes e de a processar em formatos padronizados. Esse “poder transformador da IA” deve ser encarado como “uma jornada em constante evolução”, recomendou. A conversa com Alexandre Palma, teólogo, pautou-se por algumas provocações sobre o papel da IA na sociedade, a necessidade de regulamentação e questões éticas.

Alexandre Palma arriscou, tocando num tema sensível: “podemos estar todos errados, mas não deixamos de sentir apreensão em relação a uma certa distopia”. Será uma questão antropológica, até, o receio de que as máquinas se tornem capazes de gerar sentimentos? Manuela Azevedo foi assertiva: “somos os únicos com alma”. Precisamos de tempo para nos adaptar. Do público, uma questão sobre educação e os potenciais riscos para as crianças, de se tornarem dependentes da tecnologia para tomar decisões. Manuela Veloso ressalta a importância de uma adaptação consciente, enfatizando a necessidade de exercitar o cérebro das crianças, incentivando desafios constantes e desenvolvendo habilidades como a resolução de problemas, a compreensão e a interpretação.

A discussão culminou com o teólogo a fazer uma analogia da tecnologia como uma "caixa preta" (black box), comparando-a a uma questão quase religiosa onde os inputs e outputs são conhecidos, mas o que está no meio permanece desconhecido. Manuela Veloso terminou a sua intervenção a observar que, embora estejamos cercados por "caixas pretas", a diferença com a IA é que há sempre alguém que tem conhecimento sobre ela.

A sessão de encerramento da conferência contou com os co-líderes do Insure.Hub, Manuela Pintado, da Faculdade de Biotecnologia, João Pinto, da Católica Porto Business School e António Vasconcelos, da Planetiers, a relembrarem que na essência do Insure.hub e da sustentabilidade está o mesmo ‘segredo’: engagement, compromisso, parcerias.

Veja o resumo da 3ª Conferência Insure.hub