Novos fósseis da Mina da Guimarota em Leiria apresentados em conferência

A Mina da Guimarota, em Leiria, ficou mundialmente famosa pelos fósseis de mamíferos primitivos descobertos nos anos 60, contribuindo para a história da vida na Terra.

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Um dos fósseis de mamíferos da Mina da Guimarota, que foram devolvidos pela Alemanha a Portugal em 2007 Joao Cortesão/NFACTOS

Novos fósseis encontrados na Mina da Guimarota, em Leiria, onde as descobertas incrementaram o conhecimento sobre a história da Terra, nomeadamente de fósseis de mamíferos primitivos encontrados na década de 1960, vão ser apresentados no sábado, numa conferência na qual se abordará também a exploração de carvões.

“Será divulgado o conteúdo de pequenos fragmentos de carvão da mina (lignite), contendo fósseis de vertebrados, recentemente estudados, com recurso a novas técnicas de investigação, nomeadamente microtomografia computorizada com elevada resolução", afirmou Anabela Graça, vereadora da Câmara de Leiria, entidade que co-organiza a conferência Um olhar sobre a Mina da Guimarota: As suas gentes, o seu interesse patrimonial e novos dados sobre a investigação paleontológica.

O carvão da Mina da Guimarota possibilitou “a preservação de um inúmero e variado conjunto de fósseis que foram recolhidos e estudados por cientistas, na maioria alemães, durante vários anos, permitindo a reconstituição do ambiente de há cerca de 150 milhões de anos na zona”, salientou, numa resposta por escrito à agência Lusa, a vereadora que tem o pelouro da Cultura.

A conferência, no Museu de Leiria, entre as 15h30 e as 17h30, está associada ao Dia Nacional da Cultura Científica e Dia Mundial da Ciência, que se assinala esta sexta-feira, e integra duas apresentações, de Anabela Veiga, professora no Departamento de Engenharia Civil do Instituto Politécnico de Leiria, e de Bruno Camilo Silva, Vítor Carvalho e Edgar Mulder, do Centro de Investigação em Paleobiologia e Paleoecologia da Sociedade de História Natural de Torres Vedras.

“Sobre o tema da exploração de carvões e os fósseis encontrados na Mina da Guimarota, pretende-se pôr à conversa quem trabalhou e conheceu a mina –​ um importante sítio paleontológico e especialmente famoso pelas descobertas de fósseis vertebrados do Jurássico Superior –​, assim como apresentar o conteúdo de pequenos fragmentos de carvão da mina, recentemente estudados”, divulgou o município.

“Além do conteúdo fóssil encontrado, a mina foi importante, quer para as pessoas que trabalharam no seu interior, ou à superfície, escolhendo os fragmentos de carvão, quer para os que viviam na sua proximidade, em especial as crianças que, curiosas, iam acompanhando os investigadores estrangeiros que ali passavam temporadas”, realça a autarquia.

Questionada sobre se as galerias abertas no subsolo, à época da exploração mineira, apresentam hoje algum risco para a integridade do que está à superfície na zona da Guimarota, Anabela Graça respondeu que a mina não é segura para ser visitada, pois, além de estar parcialmente inundada e pouco oxigenada, podem existir gases tóxicos libertados pelos carvões”.

Tornar a Mina da Guimarota um geomonumento

Já sobre se a Câmara Municipal de Leiria, de maioria socialista, tem intenção de dar seguimento à proposta do PSD, defendida em 2019, de criação de um museu na mina, Anabela Graça referiu que, “neste momento importa fazer um diagnóstico da situação da mina e uma avaliação por entidades competentes, e aprofundar o conhecimento científico".

Quanto a projectos futuros, a autarca apontou que “existe intenção de que uma das próximas exposições temporárias do Museu de Leiria contemple alguns dos fósseis originais da Mina da Guimarota e/ou réplicas”.

Para tal, serão estabelecidos contactos com investigadores em paleontologia e engenharia geológica, bem como com o Museu Nacional de História Natural e da Ciência e o Museu Geológico do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, onde se encontram alguns dos fósseis”, explicou, acrescentando que existe intenção ainda de registar as memórias das pessoas que viveram a mina, de forma a preservar para o futuro esta identidade.

A 9 de Julho de 2019, os vereadores do PSD apelaram à Câmara de Leiria que tornasse possível que a Mina da Guimarota seja considerada um geomonumento.

“Devemos tornar a própria mina da Guimarota num geomonumento, classificado do ponto de vista legislativo. Quando falamos em investir, podemos fazer uma amplificação deste património que a médio-longo prazo vamos capitalizar. Além da importância científica, em termos económicos vamos capitalizar muito, porque virão pessoas de todo o mundo para estudar estes achados da Guimarota”​, salientou o vereador do PSD Álvaro Madureira (agora independente). O vereador defendeu na ocasião que as galerias da mina deviam ser “tornadas num museu visitável, com condições de segurança”.