Champalimaud recebe 50 milhões de euros de grupo alemão para investigar cancro do pâncreas

Financiamento doado à Fundação Champalimaud será repartido ao longo de dez anos — ou seja, entre 2023 e 2033.

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Centro de Cancro do Pâncreas Botton-Champalimaud Rui Gaudêncio
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A Fundação Champalimaud recebeu uma nova doação de 50 milhões de euros para avançar com a investigação sobre o cancro do pâncreas, proveniente da Fundação Würth, sem fins lucrativos, e do Grupo Würth, uma multinacional alemã especialista em metalomecânica.

A doação foi formalizada na quinta-feira, sendo este um financiamento que será repartido ao longo de dez anos — ou seja, entre 2023 e 2033 —, segundo revelou, nesta sexta-feira, a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza. “É um financiamento faseado no tempo, como, aliás, o financiamento [da família] Botton, que terminou este ano justamente”, disse, referindo-se a uma doação no mesmo montante feita pelo casal espanhol Mauricio e Carlotta Botton, família que detém a marca de iogurtes Danone,que permitiu construir o Centro Botton-Champalimaud para o Cancro do Pâncreas, inaugurado em 2021, que se destina ao tratamento e à investigação desta doença, destaca a agência Lusa.

Leonor Beleza defendeu ainda que este financiamento agora anunciado ao longo de dez anos do Grupo Würth o primeiro feito por este grupo à instituição “é razoável” para que a Fundação Champalimaud possa, “de uma maneira criteriosa e muito cuidadosa, investir em investigação em cancro do pâncreas”.

A presidente da instituição prestou declarações após uma reunião do conselho de curadores da Fundação Champalimaud, o que costuma acontecer duas vezes por ano. Um ponto abordado nessa reunião foi a formalização desta doação de 50 milhões de euros provinda da família alemã Würth para investigar o cancro do pâncreas, uma área na qual a Fundação Champalimaud tem vindo a apostar “em virtude dos resultados muito negativos que até agora têm sido conseguidos no tratamento” daquele que é “um dos cancros que todos nós receámos mais”, acrescentou Leonor Beleza.

O investimento em questão será “integrado” com o trabalho feito na Fundação Champalimaud “quer com a clínica, quer com a investigação”, mas será destinado sobretudo à investigação feita no Centro Botton-Champalimaud.

“Do nosso ponto de vista, esta doação é extraordinariamente importante para nos permitir alcançar os nossos objectivos, que incluem diminuir o sofrimento das pessoas e das famílias atingidas por esse cancro”, afirmou Leonor Beleza, salientando que, “infelizmente, praticamente desde 1990 que não há progressos nem uma esperança de vida aumentada para as pessoas que são atingidas pelo cancro do pâncreas”.

Captar meios financeiros no estrangeiro

A presidente da Fundação Champalimaud garantiu que a aposta da instituição “no estudo e no tratamento deste cancro está a ser bem recebida por aqueles que podem verdadeiramente ajudar”, nomeadamente os médicos, investigadores e financiadores. E mostrou-se orgulhosa “pelo reconhecimento e pela reputação” que permite à Fundação Champalimaud “captar meios financeiros fora do nosso país” para avançar no trabalho que a instituição se propôs a fazer.

Leonor Beleza sublinhou ainda que “é preciso muito dinheiro para fazer investigação que produza efeitos nas áreas que ainda são desconhecidas”, como é o caso da área do cancro do pâncreas. “Neste momento, temos uma excelente equipa de médicos e de investigadores a trabalhar nesta área”, acrescentou, referindo que os três investigadores principais que foram seleccionados até ao momento para integrarem a investigação no cancro do pâncreas não são portugueses.

A presidente da Fundação Champalimaud escusou-se a mencionar metas concretas em termos da investigação, tendo afirmado que, “até hoje, quando foram estabelecidos objectivos muito específicos para aquilo que depende do avanço da ciência, nem sempre se acertou”. E deu o exemplo de “uma promessa que, a certa altura, o Presidente Nixon fez nos Estados Unidos de que, no fim do século XX, saberíamos tratar o cancro”. “Sabemos um bocadinho melhor do que sabíamos [antes], mas infelizmente nesse tipo de previsões muito precisas não se acerta. A única coisa que certamente podemos fazer e prometer é gastar com grande discernimento e cuidado todos os meios que são postos ao nosso alcance, sendo muito exigentes na qualidade dos médicos e dos investigadores com os quais vamos naturalmente pôr a render aquilo que é colocado nas nossas mãos”, concluiu.

Em comunicado, a Fundação Champalimaud destaca que o cancro do pâncreas “continua a ser um dos mais mortais e, ao mesmo tempo, um dos menos investigados” e que a investigação realizada na instituição é dirigida por Markus W. Büchler, “um médico de renome mundial na área da investigação e cirurgia do cancro do pâncreas” ao qual se juntam médicos e cientistas juniores e seniores que “trabalham em conjunto no centro de investigação para acelerar os avanços críticos na investigação e para permitir que os médicos de todo o mundo derrotem esta doença perigosa”.

Ao lado de Leonor Beleza, encontrava-se a rainha Dona Sofia de Espanha, curadora da Fundação Champalimaud, exemplo da cooperação internacional de que a instituição faz parte.

A Fundação Champalimaud, recorda a agência Lusa, criada em testamento pelo empresário António Champalimaud, desenvolve “programas avançados de investigação biomédica” e presta cuidados médicos nas áreas da oncologia e neuropsiquiatria.

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