De Emma Thompson a Ed O’Brien: carta contra “autoritarismo” do governo nos protestos pelo clima
Carta aberta divulgada ontem conta com 126 assinaturas. Actores, músicos, cientistas e académicos condenam o tratamento dos protestos climáticos no país. “É quase ilegal protestar pelo direito à vida”
“Hoje, na Grã-Bretanha, é quase ilegal protestar de forma urgente e eficaz pelo direito à vida para sobreviver”, pode ler-se na carta aberta divulgada ontem, dia 23 de Novembro. Entre as 126 assinaturas estão a da actriz Emma Thompson e a dos músicos Thom Yorke e Ed O’Brien, da banda Radiohead. Em conjunto com dezenas de cientistas e académicos, acusam o governo britânico de insistir nos contratos para a exploração de petróleo, em nome de uma “falsa segurança energética”, e criminalizar quem dá o alarme.
Quatro meses depois das condenações dos activistas Morgan Teownland e Marcus Decker, sentenciados a três e dois anos e sete meses de prisão, respectivamente, os manifestantes acusam o sistema político e jurídico de “prender pessoas com consciência em vez de acusar os verdadeiros criminosos”. Acção contra activistas do movimento Just Stop Oil derivou da paragem do trânsito na ponte Rainha Elizabeth II, uma das mais movimentadas do Reino Unido, por quase 40 horas. É a pena de prisão mais longa alguma vez atribuída a um protesto não violento no país.
Esta semana, Ian Fry, relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para as alterações climáticas e direitos humanos, considerou que as sentenças constituem uma potencial violação do direito internacional, lembra uma notícia no The Guardian. Os apelos que lançou ao governo britânico não tiveram retorno.
Além do relato das quase 200 condenações no ano de 2022, a carta enumera algumas catástrofes dos últimos tempos: o desaparecimento do Inverno na América do Sul, os incêndios florestais do Canadá, as inundações em Nova Iorque e na Líbia. “Nenhum lugar permanece intocado”, sublinham.
Também Michel Forst, relator da ONU para defensores do ambiente, descreveu recentemente a situação no Reino Unido como “aterrorizante”. Na sua passagem por Portugal, em Outubro deste ano, Forst afirmou que “há cada vez mais países a compararem manifestantes pacíficos com terroristas sangrentos”. Para o relator da ONU, os defensores do ambiente não são diferentes dos que lutam pelos direitos humanos.
Também em Portugal se tem verificado um crescimento dos protestos climáticos.