Por tão turvos pensamentos, lá nos vão pondo a cismar

Mário Centeno, que como ministro já citara Camões, socorreu-se há dias de David Mourão-Ferreira, numa estranha mistura de poesia & Finanças.

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De vez em quando, os políticos gostam de poetas. Vão buscar-lhes uns versos para enfeitarem discursos, usando-os como florinhas para aligeirar a sensaboria restante ou, o que é mais comum, como toque de ilusionista a deixar na audiência uma sensação de mistério, de coisa inexplicável, algo do género “o que é que o tipo quis dizer com aquilo, hã?”. Dessas citações de ocasião, que na grande maioria são esquecidas, há algumas que entram de tal modo no imaginário popular que deixam marcas duradouras. Ainda se lembrarão, certamente, do momento em que a mulher de Durão Barroso, apelando emotivamente ao voto no marido, leu o poema Sigamos o cherne, de Alexandre O’Neill, garantindo, num comício de fim de campanha, em 2002, que “o Zé Manel, se fosse peixe, era um cherne”. Durão, enternecido, respondeu-lhe lendo outro poema, de cariz mais popular. E a coisa ficaria por ali, se o dito “cherne” não tivesse ganhado as eleições e a metáfora oceânica que se lhe colou à pele não ecoasse depois em centenas ou mesmo milhares de textos.

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