De regresso à azafáma, às confirmações e descobertas do Super Bock em Stock
Will Butler, Valete, Legendary Tigerman, Anna Calvi e Kill The Pain. Alguns dos nomes que, esta sexta-feira e sábado, passarão pelo festival que se espraia pela zona da lisboeta Avenidade da Liberdade
Chegado o Outono, eis-nos então de volta à Avenida. Desta vez ao encontro de Anna Calvi, Legendary Tigerman, Jehnny Beth, Valete e do ex-Arcade Fire Will Butler, ou à cata de novas descobertas, que podem ser as Kill The Pain ou os Gilsons. Chegado o Outono, sabemo-lo há muito, o Super Bock em Stock instala-se em Lisboa e espalha-se por diversas salas no eixo da Avenida da Liberdade. A edição 2023 acontece dias 24 e 25 de Novembro.
Como já lá vai mais de década e meia desde a primeira edição, por esta altura o público sabe bem do que se trata. Um festival feito digressão por diversas salas, avenida acima, avenida abaixo, em busca daquele concerto que não se pode perder ou de descobrir uma nova banda que, por alguma razão, lhe suscitou curiosidade. Encontros, reencontros e descobertas que passarão por duas salas do Cinema São Jorge, pelo Capitólio, pela Garagem EPAL, pela Sociedade de Geografia de Lisboa, pelo Coliseu dos Recreios, pela Casa do Alentejo, pela Estação Ferroviária do Rossio ou, em modo literalmente ambulante, pelo autocarro que, com músicos no interior a animar a viagem, conduz os espectadores por vários pontos da Avenida da Liberdade.
O cartaz, fiel à identidade definida desde o início, não privilegia qualquer género em específico, apresentando-se como mostra diversa da música, das mais diversas proveniências, de que se faz o presente. No Super Bock em Stock tanto poderemos ir ao encontro do punk-rock à beira do descalabro, pintalgado de glam e psicadelismo, dos norte-americanos Pons (a descobrir na Sala 2 do São Jorge, sábado, às 19h45), como ouvir, no Capitólio, sexta-feira, às 20h15), o R&B personalizado de Carla Prata, nascido do triângulo formado por Angola, Portugal (países das suas raízes) e Inglaterra (Londres foi a cidade que a viu nascer).
No festival, é um pequeno passo o que separa Jason Miles, teclista com 50 anos de carreira, cuja carreira se cruzou com lendas como Aretha Franklin ou Miles Davis, actualmente a residir em Portugal (Sociedade de Geografia de Lisboa, sábado, 22h), da música frenética e deliciosamente inclassificável das recentes Kill The Pain, que juntam a australiana Phoebe Killdeer à francesa Mélanie Pain num cocktail explosivo de groove à Talking Heads e ESG, purpurinas pop e afrobeat cruzado com sintetizadores saídos do lado mais hedonista dos anos 1980 (São Jorge, sábado, 21h20).
Também um dia apenas a separar Jason Miles e Kill The Pain de Will Butler, o ex-Arcade Fire, irmão do vocalista Win Butler, que prossegue uma carreira a solo iniciada em 2015, agora na companhia de Sister Squares (actuam sexta-feira no São Jorge, às 23h40).
Na corrida final para o seu encerramento, no sábado, o festival apresenta em cartaz uma sucessão de peso no Coliseu dos Recreios. Jehnny Beth, a voz dos Savages, a apresentar-se a solo (20h40), seguida de Anna Calvi, a visceral guitarrista e compositora britânica na peugada de PJ Harvey (22h40), e culminando no concerto em que Legendary Tigerman nos apresentará o recente, surpreendente, Zeitgeist, o álbum que editou no final de Setembro (e onde, entre outros, participa Jehnny Beth).
Isto enquanto do outro lado da Avenida, no Capitólio, às 22h10, Valete encerra em grande a celebração dos seus vinte anos de carreira com os convidados Moullinex, Papillon, figura de destaque do hip hop português mais recente, e Black Company, pioneiros do rap nacional. Logo depois, na mesma sala, atenção a um nome de relevo do hip hop americano da última década, Smoke DZA (a noite no Capitólio arrancará às 20h15, assinale-se, com Azart, nome em ascensão no hip hop português que editou este ano o seu álbum de estreia, Foco). Antes de tudo isto, porém, mais haverá para ouvir, descobrir e celebrar.
Se pensamos em momentos únicos, atenções centradas no concerto em que João Só mostrará as suas canções acompanhado pelos Capitão Fausto (São Jorge, sexta, 21h10). Se pensarmos em momentos raros e irresistíveis, melhor mesmo será acompanharmos a festa final de sexta-feira, no Coliseu, às 0h50, um DJ set oferecido pela dupla intergeracional formada por Batida e Bonga, que repetirão a actuação protagonizada no último festival Iminente, no Terreiro do Paço (no Capitólio, sensivelmente na mesma altura, a partir das 24h, outro festim dançante estará a ter lugar, responsabilidade de O Ghettão, trio formado por DJ Nigga Fox, DJ Danifox e DJ Firmeza).
O festival será ainda palco para testemunharmos descendência de realeza musical brasileira a fazer o seu caminho nas canções – eis o som clássico moderno dos Gilsons, formados pelo filho e dois netos de Gilberto Gil (Coliseu, sexta, 22h40) – e para confirmar como a música evoluiu e se transforma em novas e excitantes expressões – preparemo-nos para os Steam Down, distintos representantes do novo jazz londrino que nos ofereceu Shabaka Hutchings, Ezra Collective ou Nubya Garcia (Estação Ferroviária do Rossio, sábado, 23h45).
Entre a electrónica dançável, insuflada de hip hop ou dancehall, do fenómeno francês Blaiz Fayah (Capitólio, sexta-feira), e o R&B de pronúncia inglesa de Sam Tompkins (São Jorge, sábado, 23h40), espaço para ouvir a nova pop portuguesa de Capital da Bulgária (Garagem EPAL, sábado, 23h) ou de Mónica Teotónio (Sociedade de Geografia de Lisboa, sexta, 22h20) e para dançar o mui orelhudo e luminoso groove de Filipe Karlsson (Coliseu, sexta, 21h).
Com os nigerianos The Cavemen, hábeis na recuperação e recontextualização do legado fundador do highlife (Estação Ferroviária do Rossio, sexta, 23h45) ou com Tagua Tagua, caldeirão de soul, pop e psicadelismo criado pelo músico e produtor brasileiro Filipe Puperi (Casa do Alentejo, sábado, 22h), eis perante nós duas possibilidades: descoberta ou confirmação? Assim é no Super Bock em Stock. Assim era quando da primeira ocupação da Avenida da Liberdade, assim continua em 2023.