O Laboratório Regional de Trás-os-Montes, em Mirandela, que foi alvo de buscas policiais por suspeitas de falsificação de análises de água, está “surpreendido” com a investigação, garantindo colaborar com as autoridades, adiantou fonte da empresa na quarta-feira.
Afirmando ter colaborado com as autoridades policiais “desde o primeiro momento”, o Laboratório Regional de Trás-os-Montes espera que as investigações possam ser desenvolvidas com a “celeridade que se impõe”, referiu a fonte oficial.
A fonte do laboratório disse estar “convicto de que a sua actividade tem sido sempre prosseguida de acordo com as melhores práticas do sector”, e confirmou ter sido nesta quinta-feira “objecto de diligências processuais” no âmbito de uma investigação tutelada pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) Regional do Porto.
“Enquanto infra-estrutura credenciada e acreditada pelas entidades competentes, nomeadamente pelo IPAC [Instituto Português de Acreditação], tem sido regularmente sujeita a avaliações e auditorias externas, tendo ficado surpreendida com esta investigação”, referiu a mesma fonte.
A ficha de acreditação do IPAC refere que a concessão ao Laboratório Regional de Trás-os-Montes foi concretizada em Dezembro de 2001.
A entidade está dotada, desde 1994, de instalações, meios técnicos e humanos com “elevada qualificação” para prestação dos serviços de controlo analítico através de análises laboratoriais, programação de campanhas de amostragem, colheita, conservação e transporte de amostras, assegura fonte da empresa.
No site da empresa, o Laboratório Regional de Trás-os-Montes refere que o seu objectivo é “prestar serviços de controlo de qualidade a municípios e serviços municipalizados da região, bem como a entidades particulares, sejam elas indústrias, empresas de tratamento de águas e saneamento, empresas de tratamento de resíduos sólidos ou mesmo a pessoas com sistemas próprios de abastecimento e a demais entidades do sector público e privado”.
AdIN garante qualidade da água
A Águas do Interior Norte (AdIN) assegura que a água que distribui é de qualidade, apesar de usar os serviços do laboratório suspeito.
Numa nota de imprensa, a AdIN sublinha que mais de 90% da água que distribui aos clientes é fornecida pela Águas do Norte, cumprindo todos os parâmetros de qualidade e segurança. O documento refere ainda que nunca foram detectadas inconformidades na qualidade da água.
A Câmara de Vila Pouca de Aguiar garante que a população pode estar tranquila quanto à qualidade de água que consome, apesar de o laboratório que lhe presta serviço estar envolvido numa investigação por falsificação de análises de água destinada ao consumo humano.
“Neste momento, não há nenhum motivo para haver pânico na população e para não se ter confiança na água de abastecimento público”, disse o presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, Alberto Machado, à Lusa.
O autarca explicou que as análises ao sistema de abastecimento público de água, que é feito através da barragem de Gouvães e que abastece Vila Pouca de Aguiar, Cidadelha de Aguiar e Fontes do Alvão, são feitas pelo laboratório que está a ser investigado, mas também pela Iberdrola (empresa espanhola de distribuição de energia e gás natural) e pela delegação de saúde local.
“E em todas elas [análises] temos garantia de qualidade de água durante este período”, referiu.
Alberto Machado esclareceu ainda que a entidade de saúde local também tem vindo a recolher amostras e a fazer análises nos restantes 82 sistemas de abastecimento público de água do concelho, no distrito de Vila Real.
Ainda assim, e perante a suspeita que recai sobre o laboratório em causa, a Câmara de Vila Pouca de Aguiar decidiu na quarta-feira contratar os serviços de um laboratório credenciado pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), de capital 100% público, para efectuar análises à água dos 83 sistemas de abastecimento público de água. Os resultados deverão ser conhecidos nos próximos dias.
Além da Câmara de Vila Pouca de Aguiar foram também alvo de buscas, no âmbito desta Operação Gota d’Água, as câmaras de Miranda do Douro, Mogadouro, Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Vila Flor e Mirandela, no distrito de Bragança.
Operação Gota d’Água
A Polícia Judiciária de Vila Real anunciou na quarta-feira, no âmbito da Operação Gota d’Água, a detenção de 20 pessoas e a realização em 60 buscas em espaços onde vivem ou trabalham responsáveis de entidades públicas e particulares. Em causa está uma investigação por falsificação de análises de águas, incluindo aquelas que estão destinadas ao consumo humano.
Em conferência de imprensa, o coordenador do departamento de investigação criminal em Vila Real, António Trogano, explicou que o laboratório, ao não efectuar a recolha de amostras de água, ou mesmo ao adulterar e falsificar os resultados, tinha com objectivo obter ganhos económicos, por receber por um serviço que não realizava, e corresponder aos “desejos” de clientes de entidades públicas ou particulares.
António Trogano deu como exemplo o funcionamento de piscinas municipais, que estão obrigadas a analisar a água regularmente e a encerrar, caso os resultados indiquem uma contaminação relevante. Se a entidade que gere o espaço não tivesse interesse no encerramento, bastava solicitar que a amostra fosse falsificada, passando a indicar valores recomendados.