Satélite norte-coreano fotografou base dos EUA em Guam, diz Coreia do Norte

Anúncio do lançamento do primeiro satélite espião da Coreia do Norte motiva uma forte condenação dos EUA. Colaboração do país com a Rússia preocupa Coreia do Sul e Japão.

Foto
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, assiste ao lançamento do satélite Malligyong-1 EPA/KCNA

A agência de notícias da Coreia do Norte, a KCNA, noticiou nesta quarta-feira que o primeiro satélite espião do país, lançado na terça-feira, captou imagens das bases militares dos Estados Unidos na ilha de Guam e enviou-as para uma sala de controlo onde foram vistas pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un.

Segundo a agência, Kim "viu fotografias da base aérea Anderson e da base naval de Apra Harbor" — localizadas nos dois extremos do território norte-americano de Guam —, captadas pelo satélite Malligyong-1.

O lançamento norte-coreano motivou uma condenação dos Estados Unidos e levou a Coreia do Sul a interromper um acordo de 2018 para o desanuviamento da tensão na fronteira inter-coreana.

Segundo a agência sul-coreana Yonhap, as Forças Armadas da Coreia do Sul vão retomar as operações de reconhecimento e de vigilância ao longo da fronteira, sendo que a Coreia do Norte ainda não respondeu à decisão do país vizinho.

Ao anunciar o lançamento do seu primeiro satélite espião, a Coreia do Norte antecipa-se à Coreia do Sul, que irá lançar, até ao fim de Novembro, o seu primeiro satélite espião construído inteiramente no país, com recurso ao foguete Falcon 9 da empresa norte-americana SpaceX.

Ao mesmo tempo, o lançamento norte-coreano — cujo grau de sucesso ainda não foi confirmado pelos EUA nem pelos seus aliados na região — surge depois de um encontro entre Kim e o Presidente russo, Vladimir Putin, em Setembro, o que abriu um debate sobre se a Rússia não estará a contribuir para o programa de mísseis balísticos da Coreia do Norte.

A este respeito, os especialistas parecem concordar que não passou tempo suficiente para que qualquer contribuição russa tenha feito parte do lançamento de terça-feira, mas dizem que isso poderá mudar daqui para a frente.

"Talvez os russos lhes tenham dado alguns conselhos, mas é normal que os países aprendam com os testes que vão fazendo", disse Jeffrey Lewis, um especialista em armamento nuclear no Instituto de Estudos Internacionais de Middlebury, nos EUA, através da rede social X.

"Se houver ajuda substancial da Rússia a caminho [da Coreia do Norte] — seja tecnologia de satélites, de sensores ou dos próprios veículos de lançamento —, é possível que venha a ser usada no próximo lançamento", disse Tianran Xu, especialista em segurança e sistemas de mísseis no programa Open Nuclear Network, com sede em Viena, citado pelo site da rede pública norte-americana Voice of America.

Não é ainda certo que o satélite lançado na quarta-feira tenha sido bem-sucedido — e, principalmente, que tenha transmitido para Pyongyang imagens das bases militares dos EUA em Guam —, mas é possível, segundo os especialistas, que os lançamentos falhados no início do ano tenham fornecido informações importantes e suficientes para garantir o sucesso do lançamento mais recente.

Esse facto — e a maior proximidade entre Pyongyang e Moscovo após o início da invasão russa da Ucrânia — faz com que os EUA, a Coreia do Sul e o Japão estejam cada vez mais preocupados com os desenvolvimentos na Coreia do Norte.

"Ao fornecer armamento e munições à Rússia, a Coreia do Norte recebe em troca não apenas comida e combustível, mas também tecnologia militar de satélites e, possivelmente, outro tipo de tecnologia avançada para programas de mísseis balísticos e submarinos movidos a energia nuclear", salientam os especialistas Victor Cha e Ellen Kim, do Center for Strategic and International Studies, com sede em Washington, num artigo publicado após o lançamento de quarta-feira.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários