Messi e os incidentes no Maracanã: “Podia ter sido uma tragédia”

O Brasil-Argentina da última madrugada ficou marcado por confrontos entre adeptos e as forças de segurança. Jogo começou com meia-hora de atraso.

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Messi liderou a selecção argentina no regresso aos balneários durante os confrontos Reuters/RICARDO MORAES
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Nunca é pacífico um jogo entre uma equipa brasileira e uma equipa argentina – a rivalidade é demasiado grande. Tal como acontecera durante o Fluminense-Boca Juniors da final da Libertadores no Maracanã, há cerca de três semanas, o Brasil-Argentina da última madrugada, que também se realizou no mítico recinto carioca, ficou marcado por cenas de violência nas bancadas e que adiou o início do jogo por meia-hora.

Jogadores argentinos e brasileiros aproximaram-se das bancadas para tentar acalmar os ânimos, mas a selecção campeã do mundo, liderada por Lionel Messi, acabaria por recolher aos balneários, voltando depois ao relvado, onde venceria por 0-1, golo do benfiquista Otamendi.

“Como aconteceu na Libertadores, vimos que a polícia estava a bater nas pessoas com bastões. Fomos para o balneário porque era a melhor maneira de acalmar toda a gente. Podia ter sido uma tragédia. Pensamos nas famílias, nas pessoas que estavam lá, não sabíamos o que se estava a passar e estávamos mais preocupados com elas do que disputar um jogo que, naquele momento, não era o mais importante”, comentou Messi, que, tal como os seus colegas, se aproximou das bancadas durante os confrontos – o guarda-redes Emiliano Martínez chegou mesmo a tentar agarrar o bastão a um dos agentes que carregava sobre os adeptos, Di Maria cuspiu na direcção de um adepto depois de ter levado com um líquido em cima, na entrada para o balneário.

Tudo aconteceu na bancada sul do Maracanã, onde costumam estar os adeptos das equipas visitantes – era onde estavam os adeptos argentinos ao lado de adeptos brasileiros sem que tenha havido segregação das claques. Os confrontos entre adeptos dos dois lados começaram durante os hinos e evoluíram para uma coisa em larga escala, envolvendo as forças de segurança – alguns adeptos chegaram mesmo a arrancar cadeiras para usar como arma de arremesso. Quando o jogo foi reatado, já havia um cordão de segurança a separar os adeptos das duas selecções. Alguns adeptos chegaram mesmo a abandonar o estádio e outros oito foram presos, sendo que duas pessoas necessitaram de cuidados médicos.

A não-segregação dos adeptos num jogo de alto risco como era este Brasil-Argentina foi a principal crítica feita aos organizadores do jogo. Mas esta decisão foi tomada em conjunto pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e as autoridades do Rio de Janeiro, segundo explicou a CBF em comunicado.

“Os planos de acção e segurança foram aprovados sem qualquer ressalva ou recomendação pelas autoridades de segurança pública […]. Todo o plano foi elaborado e dimensionado já considerando classificação do jogo como vermelha e com a presença de torcida mista”, referiu a CBF.

O jogo acabaria por acontecer, com a tensão nas bancadas a contaminar os jogadores em campo. Na primeira parte, praticamente não se jogou futebol, com muita agressividade de parte a parte – o número total de faltas diz tudo, 26 faltas cometidas pelos jogadores brasileiros, 16 pelos argentinos, sendo que a disciplina até nem foi muito apertada, apenas três cartões amarelos e um vermelho, a Joelinton (81’).

O golo de Otamendi aos 63’, um cabeceamento certeiro após canto de Lo Celso acabaria por dar a vitória à Argentina, que segue na liderança da qualificação sul-americana, com 15 pontos.

Quanto ao Brasil, sofreu a sua terceira derrota consecutiva (já antes tinha perdido com Uruguai e Colômbia) e segue num modesto sexto lugar (o último que dá qualificação directa), com apenas sete pontos em seis jogos.

Apesar de viverem momentos diferentes, tanto Argentina como Brasil estão unidos na incerteza quanto ao futuro no comando técnico. Após o jogo, Lionel Scaloni, técnico campeão mundial no Qatar, deu a entender que poderia estar de saída da selecção.

“Há que parar e pôr-me a pensar. Tenho muito que pensar neste tempo, porque esta selecção precisa de alguém com todas as energias positivas”, disse Scaloni, seleccionador desde 2018 e com contracto até 2026.

Na selecção brasileira, já se sabia que Fernando Diniz era um técnico com prazo de validade. Depois de Ramon Menezes, seleccionador dos sub-20 ter pegado na selecção para três particulares no pós-Mundial, o treinador do Fluminense, com quem se sagrou campeão sul-americano, aceitou comandar a selecção em “part time” durante seis jogos, mas só ganhou dois e este confronto com a Argentina foi, em princípio, o seu último no cargo. Quando voltarem os jogos de qualificação para o Mundial, em Setembro do próximo ano, o Brasil já terá novo seleccionador. Fala-se muito de Carlo Ancelotti, mas o ainda treinador do Real Madrid nada confirma.

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